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De L.A. para Miami: como a Pipe se tornou “unicórnio” em um ano

Com valor de mercado de $2 bilhões, fintech criou uma plataforma pela qual empresas usam sua receita recorrente como crédito para atrair investidores – e ela própria já captou mais de $300 milhões  

O modelo de receita recorrente, ou por assinatura, tem se tornado o principal caminho para startups e empresas de serviço nos últimos anos, dos streamings e softwares profissionais aos clubes de bebidas. O que poucos percebiam até então é que estes contratos (geralmente anuais) que geram recorrência e previsibilidade à receita poderiam também ser instrumentos de crédito e financiamento às empresas – e atrair investidores. 

Foi justamente este o mercado que a fintech Pipe começou a explorar no início de 2020, ao lançar uma plataforma voltada para dois públicos: as empresas interessadas em transformar seus fluxos de receita recorrente em capital para crescimento, e os investidores, que compram os contratos de médio e longo prazo – um modelo semelhante ao dos fundos de renda fixa. 

Entre janeiro de 2020, meses antes de lançar oficialmente sua plataforma, e março deste ano, a empresa captou $316 milhões em quatro rodadas de investimento. A mais recente delas, de $250 milhões, contou com participação majoritária de fundos dos EUA e Japão, além de líderes do mercado de tecnologia, como Marc Benioff, CEO da Salesforce (que é, ao lado da Netflix, um dos principais cases globais do modelo de receita recorrente). Com isso, o valor de mercado da Pipe chegou a $2 bilhões, tornando-se com sobras o mais recente unicórnio de Miami. 

A origem, porém, está do outro lado do país. Foi em Los Angeles, em meados de 2019, que Harry Hurst (na foto), Josh Mangel e Zain Allarakhia deram os primeiros passos da startup, até se mudarem para a Flórida, em setembro do ano passado, já sob o impacto da pandemia. Segundo o co-CEO Hurst, a Pipe é uma espécie de “Nasdaq da recorrência”, em que as empresas negociam em tempo real seus fluxos de receita com investidores institucionais (bancos, seguradoras, fundos de hedge e de pensão) para levantar capital.

Quando foi lançada, o foco era nas empresas de software como serviço (SaaS), que eram “óbvias frutas ao alcance da mão para receitas recorrentes”, explica Hurst. Desde então, se expandiu para outras verticais, começando com pequenas e médias empresas, com faturamento anual acima de $100 mil, até grandes companhias, com receita na casa dos milhões. 

Este modelo também muda o jogo tradicional entre startups e fundos de venture capital: em vez de captar investimentos (do anjo à série A) diluindo sua participação na sociedade, os empreendedores usam sua própria receita para alavancar novos negócios – e o valor patrimonial. 

Segundo o co-CEO, o impacto se assemelha ao que a Nasdaq fez por ações de tecnologia quando foi criada, há 50 anos, “mas ao contrário da bolsa de valores, não é o patrimônio da empresa que está sendo negociado, é o ativo subjacente – a assinatura do software – que impulsiona o valor desse patrimônio. E o comprador está muito animado em negociar esses ativos. Para eles (bancos, fundos, family offices) é o hedge perfeito contra a volatilidade dos mercados de ações. E para as empresas, é uma maneira de crescer sem se endividar ou abrir mão do patrimônio”, afirma.  

Para especialistas do mercado financeiro, a Pipe “desbloqueou uma classe de ativos de vários trilhões de dólares ao tomar os contratos que geram fluxos de receita recorrentes e torná-los negociáveis ​​pela primeira vez”, analisou o investidor Chamath Palihapitiya, um dos primeiros executivos sêniores do Facebook e que também aportou recursos na fintech. 

Mesmo com o grande volume de investimentos recebidos, a Pipe se mantém como um “unicórnio enxuto”, com uma equipe de pouco mais de 100 funcionários. Como resumiu Hearst em entrevista à Finledger, “não somos uma dessas empresas que está tentando quadruplicar o quadro de funcionários em um período de tempo muito curto, em vez de construir tecnologia para resolver problemas”.

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