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Why Miami is becoming the new tech hub in US

Incentivos fiscais e a popularização do home office tem atraído para a cidade executivos, empresários e grandes companhias de Nova York e do Vale do Silício

Tudo começou com um tuíte: “E se nós mudássemos o Vale do Silício para Miami?” A pergunta do empreendedor Delian Asparouhov, do fundo de venture capital Founders Fund e do Varta Space, seria apenas retórica se não tivesse sido respondida prontamente pelo prefeito da cidade da Flórida, Francis Suarez. “Como podemos ajudar?”, tuitou o republicano. Começava ali uma campanha do prefeito para atrair empresas de tecnologia para a cidade e transformá-la no novo polo de tecnologia e finanças dos Estados Unidos. Uma espécie de Vale do Silício tropical.

E a conversa não parou por aí. Cada anúncio de empresa que se muda para a Miami é comemorado por Suarez, que não se importa em provocar a concorrência. Em São Francisco, no Vale do Silício original, um outdoor estampa outro tuíte famoso do prefeito: “Quer se mudar para Miami? Me mande uma DM.”

Desde então, Suarez vem trocando DMs com diversos investidores, entre eles o ultrabilionário Elon Musk, que até sugeriu um túnel para driblar os congestionamentos na cidade.

A atitude amigável em relação a investimentos de Suarez é um contraponto à postura das autoridades da Califórnia, que cobram impostos elevados sem o retorno equivalente, na avaliação de empresários. Sem contar o custo de vida na Bay Area, um dos mais elevados do país. Com o home office e sem a possibilidade do networking nos cafés descolados de San Francisco, muitos começaram a pensar que montar residência num paraíso tropical seria um modo mais interessante de passar a pandemia.

E não foram poucos os que tiveram a mesma ideia. O Miami-Dade Beacon Council, entidade público-privada dedicada ao desenvolvimento econômico da região, estima que mil pessoas estejam se mudando para Flórida a cada dia. O que reforça o caráter multiétnico e cultural da região. Mais da metade dos atuais 2,7 milhões de moradores do condado de Miami-Dade nasceu fora dos Estados Unidos, a maioria na América Latina ou Caribe.

Para atrair novos investimentos, desde janeiro a cidade conta com um Chief Technology Officer (CTO). O ex-vice-presidente de engajamento da Universidade Internacional da Flórida, Saif Ishoof, tem a missão de oferecer “serviços de concierge” para empresas de criptomoedas e de blockchain interessadas em se instalar na cidade, como definiu o prefeito, que já disse que a tecnologia é o futuro da cidade.

Alguns investimentos de peso vêm contribuindo com este novo momento. Keith Rabois, investidor e cofundador do multi-bilionário Founders Fund, ao lado de nomes como Peter Thiel, do PayPal, foi um dos pioneiros, e desde então vem estimulando o ecossistema de startups da cidade – em março, o fundo anunciou um contrato de leasing de dez anos e vai ocupar parte de uma nova torre de escritórios de luxo no bairro de Wynwood. “Se você é um empreendedor, provavelmente será mais fácil levantar venture capital em Miami no momento do que na Califórnia”, tuitou em dezembro.

O banco de investimento Goldman Sachs causou furor no mercado quando anunciou, em dezembro, que estuda transferir sua divisão de ativos para a Flórida. Outros já se mudaram. O fundo de investimento Starwood  Property Trust está construindo uma sede em Miami Beach, para onde o CEO Barry Sternlicht se mudou em 2018. O investidor Carl Icahn também transferiu, em 2020, a Icahn Enterprises de Nova York para a Sunny Isles Beach, ao norte de Miami Beach. O mesmo movimento do fundo de hedge Elliott Management e do fundador da Blumberg Capital, David Blumberg.

Outras empresas ainda não mudaram sua sede, mas muitos altos executivos movimentaram o mercado imobiliário desde o ano passado. O fundador e presidente-executivo do Shutterstock, Jonathan Oringer, se mudou recentemente para uma mansão de US$ 42 milhões em Miami Beach e anunciou uma incubadora, Pareto Holdings, para investir em negócios na cidade. O CEO do Twitter, Jack Dorsey, comprou duas mansões na cidade.

 

Pandemia é ponto de inflexão

O empenho do prefeito Suarez em transformar a cidade num polo de finanças e tecnologia é muito bem recebido pela comunidade empresarial. O presidente da Miami Beach Chamber of Commerce, Jerry Libbin, diz que a pandemia foi um ponto de inflexão para a atração de investimentos. Com a quarentena, no ano passado, o fechamento dos escritórios e o trabalho remoto, Miami se beneficiou da fuga de localidades como Nova York, São Francisco e Los Angeles, cujo estilo de vida urbano ficou menos atraente quando todo mundo se viu preso em casa.

Com as equipes ainda em home office – algumas de forma permanente – muitos executivos já adquiriram imóveis na região e podem ficar de vez. “A pandemia trouxe a percepção de que é possível trabalhar de qualquer lugar. Por que então não aproveitar as vantagens de Miami: o clima, a cultura, impostos menores? Muitas empresas já vieram e outras virão”, disse Libbin em entrevista ao Experience Club.

A Miami Beach Chamber of Commerce, que tinha mil membros em fevereiro de 2020, perdeu muitos associados que deixaram de pagar porque fecharam ou não conseguiram retomar os negócios no nível pré-pandemia. Mas Libbin conta que já vem recebendo novos membros. Os negócios, diz ele, já estão voltando, especialmente no setor de hotelaria e gastronomia.

Além do clima e estilo de vida mais descontraído, o combo Miami inclui outra vantagem. Ao contrário de Nova York e Califórnia, não há imposto de renda municipal ou estadual, uma economia entre 14% a 15% sobre o rendimento como pessoa física, além de outros benefícios tributários para as empresas. “É uma economia muito grande. Sem contar que é possível trabalhar e depois ir para a praia”, diz Libbin.

David Goodboy, fundador do Palm Beach Hedge Fund Association, uma entidade que reúne profissionais de finanças no sul da Flórida, contou ao The Wall Street Journal que a base de associados triplicou no ano passado. Ele ficou surpreso quando recebeu mais de 300 confirmações para um evento presencial de networking em janeiro.

O banco de investimento Moelis é um dos que já colocaram um pezinho na cidade. O CEO Ken Moelis está estudando a abertura de um escritório em Miami depois que vários funcionários pediram – e conseguiram – autorização para se mudar para lá. “Nós somos uma empresa de talentos. Queremos atrair, motivar e reter os melhores talentos do mundo. E se eles querem ir para a Flórida, nós vamos apoiá-los”, disse Moelis à agência Bloomberg. De quebra, o banco prevê economizar US$ 30 milhões ao ano com as equipes em home office.

Para acomodar os novos moradores, Miami tem desafios – que podem se transformar em oportunidades. “Precisamos de mais escritórios de alto padrão. Temos um estoque baixo e a demanda está crescendo”, diz Libbin. Nos dias atuais, um problema que já é uma solução.

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