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Startups de Miami crescem para novos mercados

Cidade é vista como plataforma principalmente para empresas que querem alcançar países latino-americanos

Por Denize Bacoccina

A última década foi de transformação em Miami. A cidade que já tinha uma tradição de investimentos em hospitalidade, mercado imobiliário e de artes, viu um novo perfil de empresa, mais tecnológica, ocupar suas torres corporativas. Ao lado dos turistas em busca das praias de areias brancas e águas cristalinas, nos últimos anos os hotéis também começaram a receber eventos de conexão com startups e investidores. Com o fechamento de cidades grandes como São Francisco e Nova York, com a pandemia de Covid-19, e todo mundo trabalhando em casa, muitos começaram a se perguntar se não seria melhor mudar para um home office com sol entrando pela janela e vista para o mar. Para muitos, a resposta foi sim. Já que é para ficar em casa, que seja num lugar mais agradável. E a corrida pelo sol deu ainda mais força para um ecossistema que já vinha se formando nos últimos anos.

As startups do sul da Flórida atraíram mais de US$ 1 bilhão em investimento em venture capital no ano passado, de acordo com a empresa de pesquisa PitchBook. O Crunchbase Data contabiliza US$ 2 bilhões em investimento em toda a região metropolitana. A Kauffman Foundation classifica a região como a número um em atividade de startups nos Estados Unidos, com uma densidade de 247 empresas deste tipo por 100 mil habitantes.

Como esse movimento, é natural que a cidade se torne não apenas uma base de aterrissagem de empresas, mas também uma plataforma de onde elas alçam voos para outras partes do país e do exterior. “Os dois movimentos estão relacionados e se devem à maior virtualização do mundo”, disse ao Experience Club Michael Burtov, board director e vice chair do MIT Enterprise Forum, ele próprio fundador de várias startups. “Perdeu importância estar instalado num hub de inovação onde as pessoas se encontravam fisicamente, como acontecia em Cambridge, São Francisco e Nova York. E isso tornou Miami mais atraente”, afirma.

Além dos incentivos geográficos e climáticos, Miami tem outros atrativos: um bom ambiente de negócios, com estímulo do poder público à instalação de empresas. E ainda não cobra imposto de renda municipal ou estadual, o que torna atraente também manter o domicílio fiscal de pessoa física na cidade.

“Ter empresas vindo para Miami também ajuda que elas se expandam para fora de Miami”, diz Burtov. E, no movimento de internacionalização, o primeiro mercado é a América Latina. Não só pela proximidade geográfica, cultural e linguística, mas também pela semelhança dos desafios tecnológicos e na maneira de fazer negócio, o tipo de relacionamento que funciona.

Julia Lucidi, gerente sênior do CIC (Cambridge Innovation Center) Miami confirma o movimento de expansão para outras regiões, especialmente a América Latina, a partir de Miami. “Vemos Miami como uma cidade não apenas para atrair investimento na América Latina, mas uma cidade com potencial para ser comparável a Hong Kong, Dubai, uma cidade realmente global. E isso é uma vantagem para essas empresas que estão aqui”, diz ela ao Experience Clube.

 

Julia Lucidi

 

O Cambridge Innovation Center (CIC), líder global em construção e operação de comunidades de inovação com atuação em lugares como Boston, Cambridge, Filadélfia, Roterdam, Tóquio e Varsóvia, começou a analisar o ecossistema de inovação de Miami em 2012, quando players como 500 Startups, Endeavor, Venture City e outras aceleradoras e incubadoras começaram a se instalar na cidade. Em 2016, a empresa também decidiu montar uma base por lá, depois de avaliar que Miami oferecia os três pilares que eles consideram fundamentais para um hub de tecnologia: a existência de talentos (com mais de 250 mil alunos nas universidades da região), centros de pesquisa e capital.

“As empresas que querem entrar nos Estados Unidos têm que começar por Miami”, diz Julia. “Para entrar em Nova York e São Francisco é preciso ter muito dinheiro. Aqui as pessoas são mais abertas, todo mundo quer se conhecer, está aberto a fazer negócio, tem uma cultura mais colaborativa.”

Desde o início de suas operações na cidade, o CIC já apoiou 150 startups, governos e investidores de venture capital em suas iniciativas para explorar o mercado doméstico americano ou de fora. A empresa oferece um curso batizado de Soft Landing – que terá uma versão virtual, com inscrições abertas até o dia 30 de abril – de cinco dias, que ensina o caminho das pedras sobre como fazer negócio nos Estados Unidos.

O marco na consolidação dessa tendência, na avaliação de Julia Lucidi, foi o anúncio do grupo japonês SoftBank de um fundo US$ 100 milhões para investir em startups que estão sediadas em Miami ou se mudando para lá. “Estamos orgulhosos, felizes e esperamos estar contribuindo para fazer com que Miami no futuro se torne um dos mais importantes hubs de tecnologia do mundo”, disse o CEO do SoftBank International Group, Marcelo Claure, ao anunciar o fundo, ao lado do prefeito de Miami, Francis Suarez, em janeiro deste ano. Também fica em Miami o Latin American Fund do SoftBank, com patrimônio de US$ 5 bilhões.

E não é apenas no setor de TI que as empresas de Miami se destacam. Outras áreas de tecnologia também estão em alta, como biotech. O empresário espanhol José Antonio de Cote fundou em Miami, em 2015, a IQBiotech, uma empresa de bioinseticidas, serviços veterinários e plantas ornamentais, já de olho nas conexões da cidade com a América Latina. “A Flórida é estratégica tanto para o mercado americano quanto para a América Latina”, diz Cote.

Em 2019 o faturamento da empresa chegou a US$ 1 milhão, e no ano passado ela foi comprada pela Shared-X, fundada também em 2015, no Vale do Silício, e com faturamento de US$ 25 milhões e operações em países como Peru, Colômbia, República Dominicana e Zâmbia.

Outro exemplo é a Genosur, empresa de testes de diagnóstico de Covid-19 que foi fundada no Chile e conseguiu expandir-se para outros países a partir de sua instalação em Miami. A empresa agora exporta seus serviços para Nova York, Califórnia, Texas, Espanha, Brasil, Argentina e Chile, de volta às origens.

Da Cidade Mágica para o mundo.

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