Fintech de Miami “sobrevive” ao crash da moeda criptográfica e arrecada US$ 51 milhões para reforçar as ferramentas de segurança em um setor amplamente afetado por crescentes golpes.
Em menos de um ano, o mercado crypto oscilou entre a euforia e o desespero. Em novembro de 2021, Bitcoin e Ethereum despontavam com uma supervalorização que tornava as moedas digitais em opções obrigatórias para investimentos. Nove meses depois, acumulavam perdas superiores a 70%, colocando o mercado em pânico. Não há como esquecer da FTX, empresa que operava uma bolsa e um fundo hedge de crypto, mas que encerra o ano falida e com o fundador preso.
Além disso, o volume de “fraudes crypto” tem crescido em proporção inversa ao valor das moedas digitais. Segundo a Federal Trade Comission, mais de 46 mil pessoas perderam cerca de $ 1 bilhão neste tipo de golpe desde o início de 2021. As perdas são 60 vezes superiores em comparação a quatro anos atrás.
Com este cenário, os investimentos de risco foram simplesmente sumindo do mapa para as empresas cripto e do mercado digital. Mas não para empresas que vão além da tese especulativa e oferecem tecnologia de segurança contra fraudes. Foi assim que a Sardine, startup com sede em Miami, remou contra a maré e anunciou um aporte de $ 51 milhões no mês passado para expandir o desenvolvimento de produtos e suas estratégias de marketing e vendas.
A startup, que desenvolve soluções de fraude, conformidade e pagamento instantâneo, recém lançou uma tecnologia que calcula em tempo real o risco de uma empresa com base em seu histórico de transações com criptomoedas e outros ativos digitais, em comparação com outros serviços e produtos de bancos tradicionais. Na visão da empresa, há uma lacuna de dados entre os players das finanças tradicionais (TradFi) e das finanças descentralizadas (DeFI) – e isso dificulta um acesso mais amplo e seguro ao mercado de moedas digitais.
Em 2021, a FTC recebeu denúncias de fraudes criptográficas ligadas a oportunidades de investimento que somam $ 575 milhões – em geral feitas por meio de aplicativos falsos em que as pessoas depositavam criptomoedas mas não conseguiam fazer saques.
PAGAMENTOS EM TEMPO REAL TRAZEM MAIS RISCOS
“À medida que os pagamentos se tornam cada vez mais em tempo real, avaliações de risco abrangentes sobre qualquer entidade que realize uma transação no TradFi ou DeFi é fundamental para evitar que os maus atores causem danos, especialmente quando a liquidação é instantânea”, explica o CEO da Sardine, Soups Ranjan. Ele tem lastro na área de ciência de dados e análise de risco: foi o responsável do setor na Coinbase – ajudando a empresa a ampliar o volume de transações em 1.000 vezes – e fundou o Risk Salon, um think tank voltado a profissionais e especialistas que atuam no mercado de risco e compliance.
Desde sua fundação, a startup já captou um total de $ 75 milhões em cinco rodadas de investimento. O maior, e mais recente aporte, foi liderado pelo fundo Andreessen Horowitz (com outros investidores como Visa, Cross River Bank e Experian) um dos pioneiros no mercado de blockchain e moedas digitais, mas que vem sendo uma das principais vítimas do “inverno crypto” que se abateu em 2022 – o aporte anterior da Andreessen na Sardine, de $19,5 milhões, foi anunciado em fevereiro deste ano.
Segundo reportagem do Wall Street Journal, o fundo perdeu 40% em investimentos em empresas de criptomoedas na primeira metade de 2022. O volume de aportes da Andreesen Horowitz também recuou consideravelmente: foram mais de 50 deals feitos entre do 4º trimestre de 2021 e o 2º trimestre deste ano; já no último trimestre de 2022, apenas 9 empresas deste mercado receberam investimentos do fundo, aponta o Crunchbase.
“Oferecer pagamentos mais rápidos também significa risco de fraude mais rápida. Os consumidores estão cada vez mais vulneráveis a ataques de engenharia social onde estão convencidos de comprar algo que nunca chega ou investe em um esquema”, disse Ranjan em comunicado após o novo investimento. “Além disso”, reforça, “as instituições financeiras só sabem que seus clientes compraram moedas digitais mas não o que eles fazem com ele depois. O que é necessário é uma nova maneira de ver a prevenção da fraude, que inspeciona profundamente o comportamento do usuário no momento da compra”.
A aposta na Sardine, na visão do fundo, está no crescimento orgânico do mercado, já que a empresa calcula que o número de adultos americanos que possuem ativos criptográficos aumentará para 34 milhões em 2022.
Angela Strange, partner da Andreessen Horowitz, defendeu em sua tese de investimento que a startup proporciona uma operação instantânea e sem risco, ao contrário de outras soluções, e que “fornece uma visão holística do usuário, desde o onboard até o monitoramento das transações”.
FOTOS: Kanchanara (Unsplash), Sardine