BNP Paribas anunciou a operação de um escritório no Sul da Flórida em 2023 enquanto o segundo maior banco privado brasileiro, Bradesco, dobrou recursos na região e faz parcerias com fintech local.
O apelido de “Wall Street do Sul” nunca fez tanto sentido para o mercado financeiro de Miami quanto agora. Depois do boom de startups, do mercado crypto e de eventos tech, o Sul da Flórida vem se consolidando como o novo destino preferencial para firmas de investimento e bancos comerciais de vários países – que percebem o potencial de crescimento da região e o alto poder aquisitivo de moradores e investidores norte-americanos e latinos que moram e trabalham no Sunshine State.
No ano passado, gigantes como o banco Goldman Sachs e o fundo de investimentos Blackrock ampliaram seus escritórios em Miami e, na esteira dessa decisão, atrairam olhares e recursos de outras companhias, como o fundo de hedge Citadel, que está saindo de Chicago rumo à Costa Leste.
Além do mercado interno, os bancos internacionais estão priorizando Miami em suas estratégias de expansão no mercado norte-americano e latino. É o que anunciou recentemente o francês BNP Paribas, que anunciou neste início de 2023 seu primeiro escritório na cidade, no centro financeiro de Brickell, com capacidade para 50 funcionários.
Segundo a empresa, a escolha se deve à migração de vários clientes estratégicos para o Sul da Flórida nos últimos anos, seguindo a tendência que se consolidou desde a pandemia, com executivos e investidores trocando grandes e frias metrópoles dos EUA pelo clima tropical da região.
“Houve uma migração durante a pandemia, que continuou a crescer. Há uma massa crítica de clientes e um bom potencial de mercado, portanto faz sentido servir os clientes de lá”, explicou Luis Berlfein, diretor-gerente de mercados globais do BNP, à Bloomberg. A conexão com a América Latina é outro diferencial de Miami e agora o banco começa a montar a equipe para atuar no novo escritório, que deve ser inaugurado até o final de 2023. O chefe do setor imobiliário do BNP Paribas Americas, Jeremy Vandel, vai além: “Miami é um dos mercados mais competitivos que já vimos nos EUA. Você tem que ser rápido para garantir o espaço que quer”
DO BRASIL PARA A AMÉRICA, VIA MIAMI
Os dois maiores bancos privados brasileiros, Itaú e Bradesco, também colocaram Miami no centro de suas estratégias de internacionalização. No ano passado, o Itaú Private International, que tem no sul da Flórida uma de suas operações globais, anunciou um novo CEO, o executivo Percy Moreira. “Nosso foco continuará sendo o processo de consolidação da estratégia de expansão internacional, com base em Miami”, afirmou o novo líder da divisão, que tem sob gestão cerca de $43 bilhões.
O movimento do Bradesco em Miami foi ainda maior em 2022, quando elevou em $ 200 milhões o capital de sua subsidiária nos Estados Unidos, que atende pessoas físicas de alta renda. Em 2019, o banco brasileiro por $ 500 milhões comprou o BAC Florida Bank, com sede em Coral Gables, agora chamado de Bradesco Bank. Segundo Leandro Miranda, diretor executivo e responsável pelas plataformas bancárias e de investimento nos EUA, a maioria dos clientes no país são cidadãos americanos, enquanto os latinos representam 35% e o brasileiros 25%. O executivo afirma que o Bradesco é hoje o maior financiador de imóveis residenciais para estrangeiros na Flórida.
A segunda maior instituição privada bancária brasileira quer ir muito além das carteiras de investimento – e para isso pretende reforçar parcerias e comprar participações minoritárias em empresas de tecnologia para expandir nos EUA. “Vamos investir em empresas digitais que podem nos ajudar a impulsionar nosso crescimento em todas as áreas nas quais atuamos, como investimentos, financiamento, cartões de crédito, pagamentos e segurança cibernética”, afirmou Miranda em entrevista ao Yahoo BR.
Uma delas é a BCP Global, com sede em Miami e que lançou em dezembro passado uma plataforma online de investimentos digitais com foco nos clientes bancários latinos – no mesmo mês em que firmou parceria com o Bradesco. A fintech também oferece cartão de crédito e planos de seguro de vida. A escolha pelo público Latam se deve pela falta de alternativas financeiras a pessoas de alta renda que recebem em outras moedas e que buscam facilidades para investir e consumir em dólares.
Para os bancos estrangeiros que querem ampliar seus serviços e negócio nos EUA, é o casamento perfeito. “Buscamos parceiros em negócios que seriam extremamente caros e que levariam muito tempo para nós desenvolvermos”, conclui Miranda.
Foto: Southeast Financial Center Miami – Vincent Law (Unsplash)