Startups – como a Togal.AI (foto) – oferecem facilidades em um mercado em forte expansão: até 2032 a população do Sunshine State deve ultrapassar os 25 milhões de habitantes.
Em 2022 o Sul da Flórida ultrapassou locais com tradição de preços altos no mercado imobiliário americano, como Nova York e São Francisco: o preço médio de uma casa unifamiliar em dezembro foi de US$ 535 mil segundo dados da Florida Realtors publicados recentemente. Numa leitura preliminar, o cenário pode interferir negativamente nos planos de moradores e famílias que desejem adquirir um imóvel. Porém, a expectativa é que a grande concentração de proptechs – startups que desenvolvem produtos e soluções voltadas ao mercado imobiliário – ajude a superar esse desafio.
Atraídos pelo clima considerado “excelente” de Miami e pela inexistência de imposto de renda estadual, empreendedores estão instalando suas empresas na região Sul do Sunshine State. O movimento começou no segundo semestre de 2022 e, para especialistas, a união de tecnologia, inteligência artifical e burocracia reduzida entregues em muitas das soluções disponíveis no mercado deve favorecer investimentos e tornar a propriedade imobiliária mais acessível.
Uma das empresas que promete agilizar o planejamento de todos os processos envolvidos em qualquer construção é a Togal.AI. O negócio fundado por Patrick Murphy, executivo da construção civil e ex-congressista dos Estados Unidos, se propõe a automatizar por meio do uso da inteligência artificial as tarefas necessárias antes da execução de obras – a chamada fase de pré-construção.
A capacidade de utilizar machine learning para calcular plantas, posicionar paredes e salas e atualizar projetos de forma simplificada foi elogiada e reconhecida em concursos e veículos de comunicação especializados. Um dos principais retornos foi o cheque de US$ 420 mil recebido ao participar do eMerge Americas Startup Showcase em 2022. O investimento, segundo o fundador e CEO da empresa, tem sido fundamental para o crescimento do negócio.
“Nossa equipe, principalmente a que atua no Sul da Flórida, tem trabalhado para integrar mais clientes à plataforma, iniciar mais parcerias e expandir sua oferta de produtos. Continuamos adquirindo mais dados e melhorando nossos algoritmos, que são cada vez mais precisos”, disse ele em entrevista recente ao Refresh Miami. A inteligência artificial aplicada na solução da Togal.AI permitiu aos orçamentistas das obras aposentarem réguas e sistemas antiquados e economizarem tempo e dinheiro: eles conseguem reduzir o tempo de trabalho em 40% e poupar $ 800 mil por ano, viabilizando que se dediquem à conquista de novos negócios.
No futuro a startup pretende disponibilizar uma funcionalidade que permitirá ler plantas de construções já elaboradas e identificar problemas estruturais e eventuais inconformidades com a legislação. Isso vai acelerar as aprovações para que as equipes trabalhem mais rapidamente.
Uma característica interessante do ecossistema tech voltado ao mercado imobiliário da Flórida é a existência de soluções para as diversas fases de um projeto. Enquanto a Togal.AI tem foco maior na pré-construção, a DigiBuild desenvolveu uma plataforma baseada em blockchain para gerenciar e automatizar todos os processos administrativos das empreiteiras.
A startup foi criada em 2017 por April Moss, Ivan Franco e Robert Salvador. Em 2022 eles receberam um investimento de US$ 4 milhões em uma rodada inicial da qual participaram investidores como YCombinator, Draper Associates, Harvard University, Picus Capital e outros. Em entrevista concedida recentemente, o CEO e cofundador Robert Salvador disse os recursos têm sido aplicados na expansão dos produtos e das capacidades técnicas da empresa. “Estamos nos tornando o software confiável de cadeia de suprimentos e gerenciamento de materiais para construção, por isso continuaremos a melhorar nosso produto para resolver mais problemas para os clientes, expandir os esforços de vendas e marketing e procurar aumentar nossa base de clientes de empreiteiros de construção”.
TECNOLOGIA PARA FACILITAR A COMPRA DO PRIMEIRO – OU DO SEGUNDO – IMÓVEL
As startups voltadas ao real estate têm se especializado em atender a todas as demandas que podem surgir nos processos relacionados à construção e compra de imóveis. Uma delas é a aquisição de patrimônio por estrangeiros que, nos Estados Unidos, podem encontrar dificuldades em obter crédito – independente da vida financeira fora do país.
Em 2019, Boaz Leviatan, Erez Dricker, Tim Mironov e Yair Benyamini fundaram a Lendai com a missão de “mudar um mercado de trilhões de dólares usando a tecnologia para nivelar o campo de jogo para investidores globais no mercado imobiliário residencial nos EUA”. Afinal, ainda que o interessado tenha um bom histórico de crédito no país de origem, os bancos americanos não costumam facilitar a missão. Pelo menos não até agora.
A proptech opera baseada em três algoritmos que estão revisando digitalmente todo o mercado imobiliário do país, analisando propriedades, valores e estimando cenários de compra e venda. É possível verificar se o negócio terá sido lucrativo no futuro e, com os dados apurados, a plataforma é capaz de oferecer aos investidores possibilidades de empréstimo em minutos – um terço do prazo quando o processamento é feito diretamente pelos credores americanos.
O aporte mais recente na startup ocorreu em meados de 2022, quando US$ 35 milhões foram adicionados à conta da empresa. “Esta rodada é um passo monumental em termos de empréstimos acessíveis para investidores estrangeiros. Temos um produto e um fluxo significativo de clientes e receita. Com esse financiamento, poderemos continuar expandindo rapidamente para atender à demanda”, disse Yair Benyamin, CEO, ao destacar ao Refresh Miami que os EUA são o melhor mercado do mundo para se trabalhar com dados graças ao volume de informações geradas.
Spencer Rascoff e Austin Allison, fundadores da proptech Pacaso
Outro destaque dentre as startups do mercado imobiliário da Flórida é a Pacaso. Primeiro pelo fato de que a empresa, fundada em 2020 por Austin Allison e Spencer Rascoff, tem um modelo de negócio baseado na co-propriedade de imóveis de luxo. Ao utilizar os serviços da proptech é possível dividir a titularidade de uma mansão com outros interessados, por exemplo. A atuação foi expandida recentemente para Fort Lauderdale, que é um dos destinos de casas de férias mais importantes dos Estados Unidos.
Além disso, a Pacaso recebeu em 2021 US$ 125 milhões em um aporte série C, que elevou o valuation da empresa para US$ 1,5 bilhão. Para o CEO, Austin Allison, isso mostra a importância do serviço de administração dos processos de propriedade e co-propriedade – que pode envolver muitas pessoas que não se conhecem.
“A demanda dos compradores da Pacaso por casas em Miami e Fort Lauderdale tem sido muito forte. Nosso modelo de negócio ajuda a criar um novo estoque em um mercado restrito, ideal para o Sul da Flórida”, afirmou em entrevista ao Refresh Miami. O sucesso na região viabilizou a expansão da empresa, que hoje opera em 25 dos principais destinos de segunda residência – como Napa, Aspen, Malibu e Espanha -, administrando mais de US$ 200 milhões em sua plataforma.
Texto: Felipe Reis