Evento que foi um dos principais destaques do “Tech Month” debate temas como a inclusão de jovens no mercado e as perspectivas da cidade como referência nas criptomoedas
“Há dois anos, comecei a investir meu tempo conhecendo e atuando em Miami, por causa de seu crescente ecossistema tecnológico”, comentou Paul Judge, investidor e managing partner do fundo Panoramic Ventures, em entrevista à Bloomberg durante o eMerge Americas, um dos principais eventos de inovação e economia digital dos EUA, que encerrou no último dia 21. Ele foi um 20 mil participantes que não só estiveram presentes no Miami Beach Convention Center mas que também mudaram o radar de negócios em direção ao Sul da Flórida recentemente.
A Panoramic tem 85% do portfólio em empresas da Costa Oeste e Meio-Oeste dos EUA, mas já fez seus aportes na “cena tech” de Miami. No ano passado, o fundo liderou uma rodada de $8 milhões na Lumu, que desenvolve soluções de cibersegurança usadas por mais de 3 mil empresas e vem crescendo a taxas de 200% nos últimos anos. A startup já havia sido investida anteriormente pelo Softbank, que reservou um caixa de $100 milhões (a chamada “Miami Initiative”) destinado a empresas nascentes da região.
O exemplo ilustra o que mudou no Sul da Flórida entre a era pré e pós-Covid. Fundado há cerca de 10 anos para chamar a atenção de investidores e empreendedores para o mercado de tecnologia local, o eMerge Americas em 2023 marca um dos pontos altos do “Miami Tech Month”, que reuniu desde o início de abril dezenas de encontros, eventos, feiras de negócios e de contratação de profissionais, além de levar a cidade às manchetes econômicas mundo afora.
O mais recente levantamento do mercado de venture capital, divulgado durante o “tech month”, mostra que o Sul da Flórida mantém o status de região emergente na captação de recursos para startups. No primeiro trimestre de 2023, foram 72 deals em empresas da região, o que coloca Miami no sétimo lugar geral entre as principais regiões metropolitanas dos EUA – o resultado é próximo do que foi registrado na Filadélfia (94 aportes) e em Washington DC (80).
Além dos números, uma preocupação com relação ao futuro do ecossistema local está na formação de jovens da chamada Geração Z para o mercado de trabalho – especialmente das classes minitorárias (negros e latinos). “Enquanto cidades como Miami, que tem 72,3% de sua população formada por hispânicos, se estabelecem como hubs de inovação tecnológica, é fundamental abordar as barreiras sistêmicas que ampliam as divisões sociais”, comentou Felice Gorordo, CEO da eMerge Americas, em artigo para o Miami Herald.
Neste ano, a empresa apresentou durante o evento o programa Rising Stars, que conecta os melhores alunos de Ciência da Computação e Administração de Empresas de instituições acadêmicas locais com uma rede de parceiros corporativos para colocá-los nas principais empresas de tecnologia da região. “As empresas precisam trabalhar com universidades e organizações comunitárias para desenvolver soluções direcionadas que atendam às necessidades da Geração Z e levem em conta especificamente estas comunidades sub-representadas”, reforça.
O FUTURO CRIPTO ESTÁ AMEAÇADO?
A ascensão da Miami Tech esteve diretamente ligada ao potencial do mercado cripto nos últimos anos. A aposta do prefeito Francis Suarez era não só trazer empresas e investidores deste mercado à região mas também dotar a cidade com eventos globais (como a Bitcoin Conference, marcada para o mês de maio) e iniciativas inovadoras como a criação de uma moeda própria virtual, a MiamiCoin.
Mas as coisas não saíram exatamente como se esperava. Além da desvalorização de quase 70% em algumas moedas digitais no último ano, a própria MiamiCoin deixou de ser negociada em março passado pela bolsa OKcoin, que também suspendeu a compra e venda da NYCCoin, token nos mesmos moldes usado pela cidade de Nova York. A expectativa é que as negociações voltem em breve, afirmou a OKcoin em comunicado após a suspensão. Outro símbolo das criptomoedas na cidade – a corretora FTX, que detinha os naming rights da arena do Miami Heat – também foi à lona em 2022, o que reforça as dúvidas sobre o futuro da “cidade cripto”.
Depois da queda, contudo, a expectativa é de uma tendência de retomada gradual do valor das moedas digitais, o que impulsiona novos negócios. Na área imobiliária, por exemplo, um grupo de empreendedores brasileiros criou a Elite International Realty, que além de aceitar criptomoedas nas transações criou um modelo de hipotecas financiadas tendo o Bitcoin como garantia. A Cripto By Elite tem como foco os clientes de fora dos EUA, diz Colin McMahon, diretor de operações da Milo, fintech com sede em Miami que criou o produto e que recebeu recentemente um aporte de $17 milhões. “Esta inovação permite que investidores estrangeiros adquiram imóveis nos EUA sem perder sua posição”, explica o executivo.
Por mais que os humores do mercado balancem as expectativas (e os investimentos) no mercado cripto, Miami segue com uma base tecnológica – de empreendedores e capital – disposta a manter a aposta no futuro digital.