Inovações para hoteis, restaurantes e e-commerce desenvolvidas por empresas do “Silicon Wadi” ganham mercado nos EUA e dão um tempero tecnológico ao setor turístico do Sunshine State
Nenhuma atividade econômica gera mais empregos e renda em Miami do que os setores de turismo e hospitalidade (restaurante, hoteis e demais serviços). São mais de 144 mil pessoas empregadas neste mercado, que voltou com força após a crise da pandemia (2020-2022) e, que ao mesmo tempo, tem se transformado com utilização de novas tecnologias e serviços digitais.
Hoje consolidado como um dos Top 10 ecossistemas de tecnologia dos EUA (em termos de atração de capital para investimentos e expansão de empresas), o Sul da Flórida tem sido um mercado-alvo para startups de diversas regiões do planeta fincarem raízes e explorar tanto o mercado norte-americano como a área de influência da América Latina.
É o caso de empresas inovadoras nascidas em Israel – um dos principais mercados de tecnologia do mundo – que atuam no mercado de hospitalidade e que já se sentem confortáveis no ambiente da Miami Tech. Uma delas, a Reeco, captou recentemente um investimento de $10 milhões para apoiar o desenvolvimento de seu sistema de compras digitais com foco no setor hoteleiro.
Basicamente, é uma loja on-line em que os hoteis e redes adquirem produtos, desde alimentos e bebidas até materiais de limpeza, otimizando preço, disponibilidade e data de entrega. É possível dividir um pedido entre vários fornecedores para chegar à melhor condição de compra – o que chega a representar uma economia de 19% em média no valor do pedido e de até 80% no tempo de recebimento, em comparação com o modelo tradicional de compras, segundo a empresa. A solução é utilizada por grandes redes como Hilton, Marriott e Ramada Inn, entre outras.
O investimento foi liderado pela Net Capital Ventures (um fundo israelense composto por family offices e especializado no mercado tech) e pela Joule Ventures, com participação de outros investidores anjos. Em Miami, a Reeco está instalada em um escritório no distrito de Brickell e deve expandir significativamente a equipe nos próximos meses. Das 30 vagas que a empresa pretende abrir globalmente, 10 são para a operação nos EUA, disse ao Refresh Miami o cofundador Henryk Shymoni – que tem larga experiência no setor hoteleiro.
Para Dan Naftali, manager na Net Capital, esta solução é “uma maneira totalmente nova de fazer pedidos, um divisor de águas para os compradores do setor de hospitalidade”. Desde o início da pandemia, há escassez na cadeia de suprimentos de turismo, o que impacta no preço e na disponibilidade de produtos.
RESTAURANTES TAMBÉM SE BENEFICIAM COM NOVAS PLATAFORMAS
Do lado dos restaurantes, a pandemia trouxe uma oportunidade para ganhar mercado nas operações online, mas as altas taxas cobradas pelas plataformas de intermediação de pedidos fez surgir novas tecnologias. É neste cenário que opera a Sauce, outra egressa do “Silicon Wadi” (como é conhecido o ecossistema de Istael) que vem ganhando mercado no Sul da Flórida. A empresa, que começou a operar na região há pouco mais de um ano, criou uma plataforma white label de delivery para restaurantes, que permite que os pedidos sejam feitos direto pelo próprio site ou pelas redes sociais dos estabelecimentos – uma forma de reduzir custos com terceiros e fortalecer seus canais próprios.
Segundo o vice-presidente de Marketing, Elliott Hool, a Sauce já tem 10% do share do mercado de entrega de alimentos de Miami. “Mantivemos $5 milhões na economia local”, calcula o VP, explicando que esse total representa o valor que os restaurantes parceiros deixaram de pagar às plataformas de delivery – que estão baseadas em outros estados. Ele acredita que há muito espaço para crescer no mercado: “(Miami) é uma cidade com uma culinária muito forte – as pessoas adoram comida para entrega”. E o ambiente local tem sido amigável para os negócios: “desde o primeiro dia, senti que a comunidade empresarial tem sido muito prestativa. Você tem a sensação de que as pessoas querem mais tecnologia em Miami”, afirmou Hool em entrevista.
Outra startup que está se sentindo em casa no Sunshine State é a Tabit Technologies, que abriu seu escritório local no final do ano passado em Aventura, com capacidade para 70 funcionários. A empresa conta com uma plataforma que ajuda restaurantes a digitalizar operações como reservas e pagamentos, sem os custos normalmente pagos a intermediários. De acordo com o cofundador e CEO Nadav Solomon, os estabelecimentos chegam a pagar $ 1 por pessoa para reserva de mesas, além de reter 3% a 5% das vendas para as empresas de pagamento (taxas de cartão, por exemplo) e de 30% a 40% para as plataformas de delivery.
Fundada em 2014, a Tabit já tem um relevante track record em termos de captação de recuros: ao todo, já recebeu investimentos externos que somam $ 105 milhões. A empresa chegou aos EUA em 2020 e soma 300 colaboradores com escritórios em outros seis estados (Nova York, Arkansas, Idaho, Carolina do Sul, Michigan e Texas).
Com essa migração em alta, o setor de turismo e hospitalidade de Miami começa a se tornar cada vez mais tecnológico – e atrativo para novos empreendedores do setor.
Foto: Roberto Nickson (Unsplash)