Autor: Oliver Burkeman
Ideias centrais:
1 – Quando nos deparamos com tantas exigências em tão pouco tempo, é fácil assumirmos que a única resposta plausível a dar é a de fazer o melhor uso do tempo, tornando-nos mais eficientes, mais duros conosco mesmos ou trabalhando mais, como se fôssemos uma máquina da Revolução Industrial.
2 – A questão não é erradicar a procrastinação, mas escolher mais sabiamente o que você vai procrastinar para poder focar no que mais importa. A medida real de qualquer técnica de gestão de tempo é se ela ajuda a negligenciar as coisas certas.
3 – O planejamento é uma ferramenta para o exercício de reponsabilidade com as outras pessoas. O problema não está no planejamento, mas em encarar os planos como eles não são. Um plano é somente um pensamento, diz Joseph Goldstein.
4 – O reino do éthos individualista, ditado pela economia de mercado, sobrecarregou nossa maneira de organizar o tempo. As horas em que trabalhamos, descansamos e socializamos tornaram-se mais descoordenadas, sem tempo para a família, os amigos e projetos sociais.
5 – Uma estratégia para gerir melhor seu tempo é estabelecer limites predeterminados para o trabalho diário. Decida antecipadamente quanto tempo dedicar a ele, como por exemplo por oito horas corridas. Em seguida, tome as outras decisões de tempo frente a esse limite predeterminado.
Sobre o autor:
Oliver Burkeman é colunista do jornal The Guardian, no qual escreveu por muito tempo sobre produtividade, mortalidade e poder dos limites. A presente obra trata da gestão dos limites do tempo. Além dessa obra, escreveu Manual antiajuda e Help!.
Introdução
A duração média da vida humana é absurdamente, terrivelmente, insultuosamente curta. Eis aqui um modo de pôr as coisas em perspectiva: os primeiros humanos modernos apareceram nas planícies da África pelo menos 200 mil anos atrás, e os cientistas estimam que a vida, de alguma forma, continuará existindo por 1,5 bilhão de anos ou mais, até que o calor cada vez mais intenso do sol condene à morte o último dos organismos. Mas e você? Assumindo que viva até completar 80 anos, terá cerca de 4 mil semanas de vida.
Se você tiver sorte e viver até os 90 anos, viverá por quase 4.700 semanas. E se for realmente sortudo, viverá como Jeanne Calment, a mulher francesa que se pensava ter 122 anos quando morreu, em 1997, o que fez dela a mulher mais velha de que se tem registro.
Tudo isso faz com que seja extremamente frustrante que tantos de nós sejamos tão ruins em gerenciar nosso limitado tempo – que nossos esforços para aproveitar o máximo dele não apenas fracassem, mas pareçam piorar ainda mais as coisas. Há anos somos bombardeados de conselhos sobre como ter uma vida otimizada, em livros com títulos como Produtividade extrema, A semana de quatro dias, Mais rápido e melhor, além de sites cheios de lifehacks, dicas para a vida, para reduzir segundos das tarefas domésticas diárias.
Nada disso é como se deveria, supostamente, perceber o futuro. Em 1930, num discurso intitulado “Possibilidades econômicas de nossos netos”, o economista John Maynard Keynes fez uma famosa previsão: dentro de um século, graças ao crescimento da riqueza e ao avanço da tecnologia, ninguém terá que trabalhar mais do que quinze horas por semana. “Pela primeira vez desde sua criação”, disse Keynes à sua audiência, “o homem vai se deparar com um problema real e permanente, como usar sua liberdade da pressão do sustento.” Mas Keynes estava errado. Constata-se que quando as pessoas ganham dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades, elas acham novas coisas das quais necessitam e novos estilos de vida aos quais aspirar.
PARTE I – Escolhendo escolher
É comum você tratar de medir e julgar sua vida real em relação à linha do tempo em sua cabeça. Edward Hall disse a mesma coisa ao fazer uma analogia da imagem do tempo como se fosse uma esteira rolante constantemente passando por nós. Cada hora, semana ou ano é como um contêiner sendo transportado pela esteira, que temos de preencher quando ela passa se quisermos sentir que estamos fazendo bom uso de nosso tempo. Quando há atividades demais para serem acomodadas nos contêineres, nós nos sentimos desconfortavelmente atarefados; quando há demasiadamente poucas, nos sentimos entediados. Se acompanhamos o ritmo dos contêineres que passam, congratulamo-nos conosco mesmos por estarmos “por cima de tudo” e sentimos como se estivéssemos justificando nossa existência. Se deixamos muitos passarem sem os preenchermos, sentimos que os desperdiçamos.
A Revolução Industrial é comumente atribuída à invenção da máquina a vapor; mas, como Mumford demonstra em sua obra magna de 1934, Técnica e civilização, ela também provavelmente não poderia ter acontecido sem o relógio. No final do século XVIII, populações rurais estavam migrando para cidades inglesas, empregando-se em oficinas e fábricas, em cada uma das quais se requeria a coordenação de centenas de pessoas, trabalhando durante horas fixas, com frequência de seis dias por semana, para manter as máquinas funcionando.
Uma vez sendo o tempo um recurso a ser usado, você começa a se sentir pressionado a usá-lo bem, seja por forças externas, seja por você mesmo. Começa também a se recriminar quando acha que o desperdiçou. Quando se depara com tantas exigências, é fácil assumir que a única resposta tem que ser a de fazer o melhor uso possível do tempo, tornando-se mais eficiente, sendo mais duro consigo mesmo ou trabalhando mais, como se fosse uma máquina na Revolução Industrial, em vez de perguntar se as próprias exigências não seriam insensatas. É cada vez mais tentador apelar para a multitarefa, isto é, a usar a mesma porção de tempo para fazer duas coisas simultaneamente.
O objetivo deste livro é explorar, de uma maneira mais sadia, como se relacionar com o tempo e um conjunto de ideias práticas de como fazer isso, extraídas da obra de filósofos e psicólogos que rejeitaram a luta por dominar ou comandar o tempo. O livro irá esboçar um tipo de vida que é muito mais sereno e significativo e também melhor para uma produtividade sustentada a longo prazo. Mas não me entenda mal, passei anos tentando – e fracassando – adquirir domínio sobre meu próprio tempo. Eu era um “nerd da produtividade”. Os nerds da produtividade são apaixonados por “ticar” itens em suas listas de coisas a fazer.
Muitos dos filósofos que ponderaram sobre o tema da finitude humana foram relutantes em traduzir suas observações num conselho prático, porque isso remete à autoajuda. Mas seus insights têm ramificações concretas na vida cotidiana. Além de qualquer outra coisa, eles deixam claro que o desafio essencial de gerenciar nosso tempo limitado não é o de como conseguir fazer todas as coisas, até porque isso nunca vai acontecer, mas como decidir da maneira mais sábia possível o que não fazer e como se sentir em paz quanto a não ter feito algo. Como diz o escritor e professor americano Greg Krech, precisamos aprender a nos sair melhor ao procrastinar, até porque a procrastinação é inevitável. De fato, em algum momento você estará procrastinando em quase tudo, e no fim de sua vida terá andado por aí não fazendo quase nada do que teoricamente poderia ter feito. Assim, a questão não é erradicar a procrastinação, mas escolher mais sabiamente o que você vai procrastinar para poder focar no que mais importa. A medida real de qualquer técnica de gestão de tempo é se ajuda ou não você a negligenciar as coisas certas.
A questão essencial não é como diferenciar as atividades que importam e aquelas que não importam, mas o que fazer quando coisas demais parecem ser pelo menos um pouco importantes. Para resolver esse dilema, estudiosos criaram três princípios mais importantes:
- O princípio número um quando se trata de tempo é pague a você mesmo primeiro. Estou tomando essa frase emprestada da romancista gráfica e coach de criatividade Jessica Abel, que, por sua vez, a tomou emprestada do mundo das finanças pessoais, onde esse enunciado tem sido há muito uma verdade absoluta, porque funciona. Se você pega uma porção de seu salário no dia em que o recebe e a guarda em forma de poupança ou investimento ou a usa para pagar dívidas, provavelmente nunca sentirá falta desse dinheiro e vai continuar com suas demais contas em dia.
- O segundo princípio é limitar o número de trabalhos em andamento. Talvez o modo mais atraente de resistir à verdade sobre a limitação de tempo seja começar um grande número de projetos de uma só vez. Dessa forma, você se sente como se estivesse fazendo várias coisas ao mesmo tempo e tendo progresso em todas as frentes. Em vez disso, o que comumente acaba acontecendo é que não faz progresso em frente alguma, porque toda vez que um projeto começa a ficar difícil, você pode largá-lo e ir para outro.
Especialistas sugerem que não haja mais de três itens a serem feitos ao mesmo tempo.
Uma vez tendo selecionado essas tarefas, todas as demais demandas que venham
terão que esperar até que esses três itens tenham sido completados.
- O terceiro princípio é resistir à sedução de prioridades medianas. Há uma história atribuída a Warren Buffett – embora provavelmente somente do jeito apócrifo como discernimentos sábios são atribuídos a Albert Einstein ou a Buda, independe de sua fonte real – na qual seu piloto pessoal pergunta ao investidor como estabelece prioridades. Resposta de Buffett: faça uma lista das principais 25 coisas que você quer na vida, das mais importantes para as menos. As cinco primeiras devem ser aquelas em torno das quais você organiza seu tempo. As outras evite a todo custo.
Steve Young, da Califórnia, pediu a um monge de templo budista do Japão para entrar em seu mosteiro. Teve que passar por vários exercícios físicos a fim de ser recebido. Um deles: Young teve que se encharcar com vários galões de uma neve derretida congelante; segundo ele “horrível martírio”.
Entretanto, enquanto um dilúvio gelado se sucedia a outro, Young começou a compreender que essa era exatamente a estratégia errada. De fato, quanto mais se concentrava nas sensações de frio intenso, prestando atenção nelas o máximo que podia, menos angustiantes lhe pareciam, ao passo que, se “a atenção se dispersava, o sofrimento ficava insuportável”. Lentamente, foi percebendo que aquele era todo o objetivo da cerimônia.
O martírio de Young demonstra um ponto importante sobre o que está acontecendo quando sucumbimos à distração, que é estarmos sendo motivados pelo desejo de tentar fugir de algo doloroso em nossa experiência do presente. Trata-se de uma experiência física. Mas também é verdade, de modo mais sutil, quando se trata de uma distração cotidiana. Um caso típico é a mídia social. Você se desvia, por exemplo, de sua tarefa difícil e desagradável e escorrega para o Twitter ou para o site de fofocas sobre celebridades, como que procurando alívio.
A solução para esse mistério, por mais dramático que possa soar, é que sempre que sucumbimos à distração, estamos fugindo de um doloroso encontro com nossa finitude, com o dilema humano de ter tempo limitado, e, no caso da distração, controle limitado daquele tempo.
PARTE II – Fora de controle
Essas verdades sobre a falta de controle sobre o passado e a impossibilidade de conhecer o futuro explicam por que tantas distrações espirituais parecem convergir no mesmo conselho: que devemos aspirar a confiar nossas atenções na única porção de tempo que realmente é da nossa conta: esta aqui, no presente. “Tentar controlar o futuro é como tentar tomar o lugar do mestre-carpinteiro”, avisa um dos textos fundadores do taoísmo, o Tao Te Ching, numa advertência que foi ecoada vários séculos depois pelo erudito budista Geshe Shawopa, que ordenava rispidamente a seus alunos: “Não governem reinos imaginários de infindáveis possibilidades e proliferação”. Jesus diz algo muito parecido no Sermão da Montanha (embora muitos de seus seguidores tardios interpretem a ideia cristã de vida eterna como uma razão para se fixar no futuro, e não para ignorá-lo). “Não se preocupe com o amanhã, pois o amanhã cuidará de si mesmo”, ele aconselha.
Incidentalmente, tampouco acho que Krishnamurti esteja recomendando que façamos como esses irritantes indivíduos, que são um pouco orgulhosos demais de seu comprometimento em serem espontâneos, que insistem no direito de nunca fazer planos e de ir passando impulsivamente pela vida e com os quais você nunca pode ter certeza de que um acordo de se encontrarem às 18h para um drinque significa que tenham a intenção de comparecer.
Esses tipos aparentemente livres e soltos parecem se sentir confinados pelo próprio ato de fazer planos ou de tentar cumpri-los. Porém, o planejamento é uma ferramenta essencial na construção de uma vida significativa e para o exercício de responsabilidade para com as outras pessoas. O real problema não é o planejamento. É que encaramos nossos planos como algo que não são. O que esquecemos, ou não suportamos enfrentar, é que, nas palavras do professor de meditação americano Joseph Goldstein, “um plano é somente um pensamento”.
Um dos insights centrais da antiga religião chinesa do taoísmo é que nós sofremos quando adotamos esse tipo de atitude imperial em relação ao resto da realidade. O Tao Te Ching está cheio de imagens de flexibilidade e complacência: o homem sábio (o leitor está sendo constantemente informado) é como uma árvore que se curva em vez de quebrar ao enfrentar o vento, ou a água que flui em torno dos obstáculos em seu caminho. As coisas são simplesmente do jeito que são, é o que as metáforas sugerem, não importa quão vigorosamente você possa querer que não sejam. Sua única esperança de exercer qualquer influência real sobre o mundo é trabalhar com o fato, não contra ele. Mas o fenômeno da buzinada sem sentido, e, mais genericamente, da impaciência, sugere que a maioria de nós é um taoísta ruim. Tendemos a sentir que é um direito nosso que as coisas se movam na velocidade que desejamos, e o resultado é que isso nos faz ficar infelizes.
As pessoas reclamam que não têm mais tempo para ler, mas, na realidade, como assinalou o romancista Tim Parks, poucas vezes elas não podem, literalmente, alocar uma meia hora livre para isso no decurso do dia. O que eles querem dizer é que, quando encontram tempo, e o usam para tentar ler, descobrem que estão impacientes demais para se dedicar à tarefa. “Não é simplesmente que essa tarefa é interrompida”, escreve Parks “É que existe efetivamente uma inclinação à interrupção.” Não estamos ocupados demais ou dispostos demais, mas não estamos querendo aceitar a verdade de que a leitura é um tipo de atividade que opera muito de acordo com seu próprio cronograma. Você não é capaz de apressá-la muito sem que a experiência comece a perder seu sentido; ela recusa-se a concordar com nosso desejo de exercer controle sobre como o tempo se desenrola. Em outras palavras, e de acordo com muitos mais aspectos da realidade do que aqueles que nos sentimos confortáveis para reconhecer, ler alguma coisa de modo adequado leva simplesmente o tempo que leva.
Talvez pareça melodramático comparar o “ciclo da velocidade”, como Stephanie Brown chama nossa doença moderna de uma vida acelerada, com a condição de um alcoolismo grave. Algumas pessoas definitivamente ficam ofendidas quando ela faz isso. Mas seu enfoque não é que uma pressa compulsiva seja tão destrutiva fisicamente quanto o e excesso de álcool, e, sim, que o mecanismo básico é o mesmo. À medida que o mundo fica cada vez mais rápido, acreditamos que nossa felicidade ou nossa sobrevivência financeira depende de sermos capazes de trabalhar e nos movimentar e fazer as coisas acontecerem numa velocidade sobre-humana. Ficamos ansiosos com medo de não acompanhar tudo e, para acalmar a ansiedade e tentar obter a sensação de que nossas vidas estão sob controle, movemo-nos mais depressa.
“Uma pessoa com um horário flexível e recursos medianos será mais feliz do que uma pessoa rica que tem tudo, exceto um horário flexível”, comenta o cartunista que se tornou guru de autoajuda Scott Adams, resumindo o éthos da soberania do tempo individual. Ele continua, “o passo número um em sua busca por felicidade é trabalhar continuamente para ter o controle de seu horário”. A expressão mais extrema dessa visão é a escolha do estilo de vida moderna de se tornar um nômade digital, alguém que se liberta da corrida de ratos para percorrer o mundo com seu laptop, operando seu negócio pela internet de uma praia da Guatemala ou do topo de uma montanha na Tailândia, conforme dite seu capricho.”
Porém, nômade digital é um nome impróprio e instrutivo. Nômades tradicionais não são pessoas errantes e solitárias sem laptops; são pessoas intensamente focadas em grupo que, quando muito, têm menos liberdade pessoal do que membros de tribos sedentárias, já que sua sobrevivência depende de trabalharem juntos com sucesso. Em seus momentos mais sinceros, nômades digitais vão admitir que o principal problema com seu estilo de vida é uma aguda solidão. “No ano passado eu visitei 17 países; este ano, vou visitar dez”, escreveu o escritor Mark Manson, quando ainda era um nômade. “No ano passado, vi o Taj Mahal, a grande Muralha da China e Machu Picchu num período de três meses… Mas fiz tudo isso sozinho.” Um camarada errante, constatou Manson, “irrompe em lágrimas num pequeno subúrbio no Japão observando uma família andando de bicicleta, todos juntos num parque”, quando lhe ocorreu que sua suposta liberdade – sua capacidade teórica de fazer o que bem quisesse, quando escolhesse – tinha deixado prazeres tão comuns como esse além de seu alcance.
A questão, para ser claro, não é que uma viagem livre de obrigações ou de longo prazo seja intrinsecamente algo ruim. É que isso vem com um inevitável outro lado: todo ganho em liberdade pessoal temporal implica uma perda correspondente na facilidade para coordenar seu tempo com o de outras pessoas. O estilo de vida do nômade digital carece dos ritmos compartilhados necessários para que se enraízem relacionamentos profundos.
O problema com esse tipo de liberdade individualista, como assinala Judith Shulevitz, é que uma sociedade influenciada por isso, como a nossa é, acaba se dessincronizando e impondo a si mesma algo supreendentemente semelhante, em seus resultados, ao desastroso experimento soviético com a assombrosa semana de cinco dias. Vivemos nossas vidas cada vez menos nos mesmos sulcos temporais em que vivem os outros. O reino desenfreado desse éthos individualista, preenchido pelas demandas da economia de mercado, sobrecarregou nossas maneiras tradicionais de organizar o tempo, o que significa que as horas nas quais descansamos, trabalhamos e socializamos tornaram-se ainda mais descoordenadas. É mais difícil do que nunca achar tempo para um tranquilo jantar em família, uma visita espontânea a amigos ou qualquer projeto coletivo como tratar de um jardim comunitário, ou tocar numa banda de rock amadora, que ocorra fora do local de trabalho.
Para deixar tudo isso mais concreto, pode ser útil fazer as seguintes perguntas quanto à sua própria vida. Não importa se as respostas não vierem logo: a questão, como na famosa expressão de Rainer Maria Rilke, é “viver as perguntas”. Mesmo fazê-las com sinceridade já é ter começado a lidar com a realidade de sua situação e a obter o máximo de seu tempo limitado.
- Onde, em sua vida ou em seu trabalho, você está atualmente buscando conforto, quando o que se precisa é de um pouco de desconforto?
Ir atrás de projetos de vida que mais lhe importam quase sempre implica não se sentir completamente no centro de seu tempo, imune aos dolorosos ataques de realidade, ou confiante quanto ao futuro. Significa embarcar em empreendimentos de risco que podem fracassar, talvez porque você sinta que lhe falta talento suficiente; significa arriscar constrangimentos, manter conversas difíceis, desapontar os outros, e entrar em relacionamentos tão profundos que um sofrimento adicional é quase garantido, especialmente quando coisas ruins acontecem a pessoas com quem você se importa. E assim, nós naturalmente tendemos a tomar decisões sobre nosso uso diário do tempo que priorizem, em vez disso, evitar a ansiedade. Procrastinação, distração e fobia a compromissos, além de resolver pendências e assumir projetos demais de uma só vez, são maneiras de tentar manter a ilusão de que você está dando conta das coisas.
- Você está se agarrando a padrões de produtividade ou desempenho impossíveis de serem alcançados ou se julgando com base nesses padrões?
Um sintoma comum da fantasia de algum dia atingir total domínio do tempo é que estabelecemos para nós metas inerentemente impossíveis para o uso dele, metas que sempre têm que ser postergadas para o futuro, já que nunca podem ser alcançadas no presente. A verdade é que é quase impossível você se tornar tão eficiente e organizado a ponto de ser capaz de corresponder a um número ilimitado de exigências. Em geral, é igualmente impossível passar o que se percebe como “tempo bastante” em seu trabalho e com seus filhos, em socialização, viagens ou envolvido em ativismo político. Mas há uma enganosa sensação de conforto em acreditar que você está no processo de construir uma vida assim, que agora isso deverá acontecer qualquer dia desses.
- De que modo você ainda tem que aceitar o fato de que você é quem é, não a pessoa que pensa que deveria ser?
Um modo muito parecido de postergar o confronto com sua finitude, com a verdade angustiante que é isso aí, é tratar sua vida atual como parte de uma jornada em direção a se tornar o tipo de pessoa que você acredita que deveria se tornar aos olhos da sociedade, da religião, de seus pais, estejam eles ainda vivos ou não. Uma vez tendo adquirido seu direito de existir, a vida deixará de parecer tão incerta e fora de controle. Em tempos de crise política e ambiental, essa mentalidade com frequência toma a forma da crença de que nada é realmente digno de ser feito com seu tempo, exceto enfrentar essas emergências de cabeça erguida, o tempo todo.
- Em que setores da vida você ainda está se mantendo parado até sentir que sabe o que está fazendo?
É fácil passar anos tratando sua vida como se ela fosse um ensaio geral, pela lógica segundo a qual o que você está fazendo, por enquanto, é adquirir as aptidões e a experiência que lhe permitirão assumir mais tarde o controle peremptório das coisas. Mas, às vezes, eu penso em minha jornada pela idade adulta até agora como uma caminhada na qual se descobre incrementalmente a verdade de que não existe instituição, nem caminhada de vida, em que todo mundo não esteja simplesmente improvisando o tempo todo.
- Como você passaria seus dias de modo diferente se não cuidasse tanto de ver suas ações resultarem em fruição?
Existe um sentido no qual todo trabalho – inclusive o de ser pai ou mãe, de criar comunidade, e tudo mais – tem essa qualidade de não ser completável durante nosso tempo de vida. Todas essas atividades sempre pertencem a um contexto temporal muito maior, com um valor definitivo que só será mensurável muito tempo depois de termos ido embora, ou talvez nunca, já que o tempo se estende indefinidamente. E assim vale perguntar: quais ações, que atos de generosidade ou de cuidado com o mundo, quais esquemas ambiciosos ou investimentos no futuro distante poderiam ser significativas para começar a empreendê-las hoje, se você puder aceitar o fato de que nunca verá os resultados?
Estamos todos na situação de pedreiros medievais, acrescentando mais alguns tijolos à catedral cujo fim da construção sabemos que nunca iremos ver. Mesmo assim, a catedral ainda é digna de ser construída.
Uma estratégia, entre outras, para bem usar, gerir seu tempo é estabelecer limites predeterminados de tempo para seu trabalho diário. Em qualquer medida que sua atual situação no emprego permite, decida antecipadamente quanto tempo vai dedicar ao trabalho. Você poderia resolver começar às oito e meia da manhã e terminar não depois das cinco e meia da tarde. Em seguida, tome todas as outras decisões relativas ao tempo à luz desses limites predeterminados. “Você pode preencher qualquer número arbitrário de horas com o que lhe pareça ser um trabalho produtivo”, escreve Cal Newport, que explora essa abordagem em seu livro Deep Work. Porém, se seu objetivo é fazer o que é necessário para terminar às cinco e meia, estará consciente das limitações de seu tempo, e mais motivado para usá-lo sensatamente.
Ficha técnica:
Título: Four Thousand Weeks: Time Management for Mortals
Resumo: Rogério H. Jönck
Edição: Monica Miglio Pedrosa