Enquanto a Cosmic Wire captou $30 milhões em julho e foi selecionada pelo Google, a YugaLabs (criadora dos NFTs Bored Ape) compra empresa de jogos imersivos
No mundo dos negócios, quando uma tendência se estabelece como dominante no mercado, outras inovações acabam ficando para trás no interesse de usuários, empresas e investidores. Em 2023, nada atraiu mais atenção do que a inteligência artificial generativa, que se tornou para muitos a nova fronteira do desenvolvimento tecnológico.
Mas e quanto ao grande hype dos últimos anos, a Web3 e o metaverso? Startups e investidores que apostaram seu tempo e recursos nesta “nova fase” da internet, baseada na imersão digital de usuários e no modelo de operação descentralizada, perderam o timing depois que a IA veio com força? Olhando para o cenário de inovação do Sul da Flórida – onde surgiram diversas empresas disruptivas entre 2021 e 2022 e que captaram investimentos gigantescos – parece que a tendência está voltando.
Em julho passado, a Cosmic Wire, uma startup com case em Miami e que desenolve soluções em Web3 e blockchain, anunciou uma rodada de investimento de $30 milhões liderada pela Solana Foundation e a Polygon, que será utilizada para acelerar o desenvolvimento de um ecossistema digital Web3 descentralizado, transparente e seguro. O objetivo é capacitar os usuários a terem controle total sobre seus dados e interações on-line.
O total de recursos captados podem parecer modestos perto do que outras startups Web3 captaram no auge dos investimentos de venture capital nesta década – como aconteceu com a YugaLabs, criadora do famoso NFT Bored Ape Yacht Club, investida em $450 milhões em 2021, a MoonPay (considerada o PayPal da economia cripto, que captou $87 milhões por meio de crowdfunding) e a QuikNode (que desenvolve infraestrutura para Web3 e levantou $60 milhões). Mas além do aporte, a Cosmic Wire está bem posicionada entre os grandes players: recentemente, a startup foi selecionada para o aguardo programa Web3 do GoogleCloud, que vai ajudar a definir a próxima geração de tecnologia imersiva e blockchain.
A YugaLabs, que depois de ganhar a atenção do mundo com seus colecionáveis e se tornar referência em NFTs (a despeito da desconfiança do mercado a que o hype se seguiu) também está se movimentando: na semana passada, a empresa do Sul da Flórida adquiriu a Roar Studios, uma empresa que atua na convergência de jogos, social media e metaverso, com uma plataforma de mídia imersiva no qual jogadores se conectam, colaboram e competem em tempo real de qualquer lugar.
“A Roar Studios redefiniu o que significa experimentar o conteúdo de mídia no metaverso. Esta criação de conteúdo criativo e as conexões sociais vão acelerar a execução do ecossistema do Yuga de forma mais ampla”, explicou Daniel Alegre, CEO da YugaLabs.
WEB3 e IA COMPETEM?
Engana-se quem pensa que há um conflito entre o universo da Web3 e da IA generativa, como se ambas tecnologias fossem antagônicas. Como explicou em artigo o desenvolvedor Front-End Senior da Amazon, Vitalii Shevchuk, trata-se de “tecnologias sinérgicas e complementares que podem se beneficiar dos pontos fortes e superar os pontos fracos umas das outras. A Web3 pode oferecer uma plataforma mais segura, transparente e justa para a operação da IA, garantindo que os usuários tenham mais controle e confiança sobre seus dados e algoritmos. Além disso, também pode permitir novos modelos de negócios e incentivos para o desenvolvimento e a implantação da IA, como tokenização, governança e colaboração”.
“Por outro lado”, continua”, a IA pode aprimorar a funcionalidade e a usabilidade dos aplicativos da Web 3, tornando-os mais inteligentes, personalizados e eficientes, ajudando a resolver alguns dos desafios técnicos e limitações, como escalabilidade, interoperabilidade e experiência do usuário.
Esta compreensão por parte do mercado (em especial de investidores) será fundamental para outras startups do Sul da Flórida que se aventuraram nos últimos anos na Web3, consigam captar recursos para expansão.
IMAGEM: Julien Tromeur / Unsplash