por Denize Bacoccina, head de Conteúdo Editorial do Experience Club Brasil, direto do SXSW2024
Eles têm entre 14 e 33 anos de idade e estão entrando no mercado de trabalho, provocando um choque de gerações com seus chefes e colegas mais velhos e fazendo com que muitos deles repensem suas próprias atitudes. É a Geração Z. No SXSW, em Austin, nesta semana, um painel com o sugestivo título A Geração Z no trabalho: hierarquia corporativa ou playground? discutiu as aspirações e particularidades da geração que nos próximos anos já vai representar um terço da força de trabalho nos Estados Unidos.
É uma geração que se formou ou entrou no mercado durante a pandemia e recebeu indicações confusas de como é o ambiente de trabalho. É remoto ou presencial? As pessoas devem se concentrar em entregar seus projetos ou interagir com os colegas? Como afinal é um ambiente corporativo? E aquele discurso de equilíbrio entre vida profissional e pessoal é pra valer ou fica só no discurso do departamento de pessoas? Afinal, é mesmo permitido falar sobre saúde mental?
São questões que aparecem com força entre os novos profissionais, conhecidos por trabalhar não apenas pela compensação financeira, mas por um propósito – e exigir um alinhamento entre os propósitos pessoais e os da empresa. Por outro lado, estão dispostos a trabalhar duro e mostrar que estão comprometidos com a carreira e o crescimento profissional?
O painel reuniu três profissionais que têm contato permanente com esses jovens: Gali Arnon, Chief Business Officer da Fiverr, plataforma de conexão de freelancers, Valerie Capers Workman, Chief Legal Officer da Handshake, plataforma que conecta estudantes com empresas, e Novo Constare, cofundador da Indeed Flex.
Eles concluem que os profissionais da Geração Z querem flexibilidade e liberdade. Mas também querem estabilidade e uma parte já entra no mercado pensando na aposentadoria, mesmo que não tenham intenção de permanecer na mesma empresa durante todo esse tempo.
“O que eles querem é ser freelancer”, diz Gali, contando que uma pesquisa da plataforma que ela dirige mostra ser esta a opção de 70% dos entrevistados. “Ser da Geração Z nos últimos foi muito confuso. Na pandemia, eles ouviam que o trabalho era remoto. Agora, são obrigadas a trabalhar no presencial, estão de volta ao horário comercial. Tudo o que eles sabiam sobre trabalho mudou.” Além da maior flexibilidade de horários, ela aponta um outro motivo: o medo de serem demitidos. Como freelancers, a falta de laços mais permanentes com a empresa já está dada, e a perda de um trabalho pode ser compensada com a diversificação e fontes de renda – além de satisfação profissional. Ao mesmo tempo, pesquisas mostram que 44% querem estabilidade financeira e 20% querem se aposentar cedo.
“A busca por estabilidade tem a ver com a pandemia”, diz Valerie. A Geração Z também quer saber exatamente o salário que vai receber e pergunta sobre os benefícios para aposentadoria. E 70%, segundo a pesquisa, dizem se importar com os valores da empresa, que precisam estar alinhados com seus valores pessoais. “Os candidatos estão escolhendo as empresas a partir do que elas estão divulgando sobre si mesmas”, diz Valerie.
Esses jovens valorizam a saúde mental, colocando em prática e desafiando as empresas a praticar o que falam sobre a importância do equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. “Eles estão trabalhando para viver, não vivendo para trabalhar. Querem ter uma vida mais completa, não só uma carreira”, diz Gali. “Eles querem trabalhar duro, mas também querem fazer outras coisas”, diz Valerie.
“As empresas passam a mensagem de que precisa ter equilíbrio trabalho/vida pessoal, mas na verdade demandam mais. Elas precisam ser claras com a mensagem de que é preciso trabalhar duro para crescer. Sucesso demanda trabalho”, diz Novo.
E esta é outra diferença em relação à estrutura tradicional das empresas: a Geração Z não aceita compromissos profissionais marcados fora do horário de expediente. “Se o evento é importante, deve ser feito dentro do horário”, diz Valerie.
Para quem pensa que esta nova geração é muito diferente das anteriores, Gali trouxe um lembrete. “O choque de gerações sempre existiu. O que precisamos é ter um olhar sem julgamento. Eles têm skills incríveis, têm ambição, querem ser bem-sucedidos. Só são diferentes. Quanto mais a gente tentar entender e se colocar no lugar deles, melhor vai ser essa relação.”