Tema obrigatório quando se trata de fomentar uma Economia Verde, o desenvolvimento do mercado de créditos de carbono volta à tona e ganha impulso num momento em que o mundo dos negócios começa a adotar para valer a agenda ESG.
Embora seja visto, já há bastante tempo, como uma solução econômica viável para mitigar os altos níveis de poluição lançados na atmosfera todos os dias, o segmento ainda movimenta cifras bastante modestas no mundo e apenas engatinha no Brasil.
Segundo os dados mais recentes do Banco Mundial, ao longo de 2019, foram gerados US$ 45 bilhões em iniciativas de precificação de créditos de carbono ao redor do planeta. Só para que se estabeleça uma comparação, segundo dados da consultoria Economatica, no ano passado, a B3, Bolsa brasileira, negociou, em média, US$ 5,3 bilhões por dia em ações, derivativos e outros títulos do mercado de capitais.
Ou seja, numa conta simples, bastariam nove pregões para movimentar o total negociado em créditos de carbono. Uma pechincha para um mercado financeiro com trilhões de dólares à procura de ativos rentáveis, em tempos de juros baixos.
Potencial
De qualquer forma, se o volume girado ainda é pequeno, o potencial em torno do mercado é gigantesco. Tanto é que alguns países tomaram a dianteira. Europa, Coréia e alguns estados americanos, com destaque para a Califórnia, já organizaram mercados regulados para negociar créditos de carbono.
Mercados regulados são ambientes nos quais se busca maior transparência na formação do preço e há maior fiscalização. O objetivo é que, com o tempo e mais negócios, surja também liquidez.
Correndo atrás do prejuízo
O Brasil, ainda que bastante atrasado nessa corrida, está se mexendo. Por aqui, o que existe atualmente é apenas o chamado mercado voluntário. Ele tem esse nome porque, ali, as empresas não têm estímulos ou subsídios governamentais para participar.
As companhias que atuam no mercado voluntário o fazem por iniciativa própria ou para demonstrar, para clientes e fornecedores, que têm compromissos com as práticas ESG.
De acordo com Karen Tanaka, Gerente Técnica para Energia, Mudança do Clima e Finanças Sustentáveis do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a entidade tem dialogado com o governo federal, com órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e, em junho, deve trazer a público uma proposta sobre o tema.
“Defendemos a adoção de um mercado regulado, que traz segurança em questões institucionais, jurídicas e trata da possível participação de agentes financeiros”, diz.
“Imaginamos que o crédito de carbono vai ser a nova commoditie e o Brasil pode ser o maior fornecedor do mundo”
Pela sugestão do CEBDS, haveria uma espécie de escalonamento, com empresas cujos setores são mais poluidores, casos de Indústria e Energia Elétrica, sendo as primeiras a participar. O agronegócio viria mais à frente, com negócios para compensar suas emissões.
Quem já se interessa?
Estimuladas (ou pressionadas) pelo mercado, algumas grandes empresas de setores sensíveis em termos de produção e emissão de carbono têm dado mostras de que vão liderar a adesão ao mercado de créditos.
Um exemplo disso é a Suzano, cujo presidente, Walter Schalka, disse, em entrevista à Bloomberg, no ano passado, que só a preservação da Amazônia pode render US$ 10 bilhões anualmente ao país.
“Seria uma oportunidade incrível no mercado de carbono verde se o Brasil reduzisse o desmatamento da Amazônia e queimasse a zero. Não é um empréstimo ou investimento. Seria lucro com as vendas”, calculou à época.
Texto: Luciano Feltrin