A Reef, primeira do Sul da Flórida a valer mais de $ 1 bilhão, dispensou 750 funcionários nesta semana. Expansão acelerada dos últimos anos freou com alta da inflação e dificuldades no licenciamento.
A maré alta de investimentos de venture capital em startups e a ascensão de negócios tecnológicos bilionários (os “unicórnios”) parece ter se transformado em ressaca para algumas empresas neste início de 2022. Desde janeiro, segundo levantamento do Layoffs, plataforma que monitora demissões em startups mundo afora, mais de 10 mil pessoas perderam seus empregos no setor tech, especialmente nos Estados Unidos, Índia e América do Sul.
Um dos recuos mais contundentes veio do Sul da Flórida. A Reef Technology, primeira startup a ser considerada um unicórnio da região de Miami-Fort Lauderdale, anunciou na segunda (9) a demissão de 750 funcionários, o que representa 5% de sua força total de trabalho.
Há não muito tempo, a Reef vinha em uma ritmo acelerado de expansão. Fundada em 2013, a empresa surgiu com a proposta de ser uma “plataforma de inovação urbana”, ao administrar (e em alguns casos até adquirir) áreas de estacionamento e garagens e transformar em áreas para produção e entrega de alimentos.
Em 2018, o fundo japonês Softbank fez um aporte de $ 800 milhões na startup – e reforçou em 2020 em conjunto com o fundo Mubadala Capital, de Abu Dhabi, em uma nova rodada de US$ 700 milhões. Em meio à pandemia, que praticamente acabou com a aglomeração urbana durante meses, a Reef expandiu o modelo para o gerenciamento de “dark kitchens”, para atender à demanda gigantesca de pedidos de comida por delivery.
Naquele 2020, a startup captaria outros $ 300 milhões com a Oaktree Capital Management para expandir sua participação no mercado imobiliário. A Reef também explorou outros usos para seus estacionamentos, como clínicas de saúde, lojas de conveniência e fazendas verticais. E sonhava em ir muito mais alto – já tinha, inclusive, acordos de parceria futura com empresas que estão desenvolvendo o projeto de um táxi voador.
Só em Miami, a Reef tinha planos de contratar mil funcionários – e se fortalecer como um dos maiores empregadores nativos da cena tech do Sul da Flórida, cada vez mais ocupado por novos moradores. Neste ritmo, estava se consolidando como uma das empresas de restaurante de maior crescimento no mundo, com acordos de licenciamento com várias redes para abrir milhares de cozinhas.
PARA CEO, INFLAÇÃO FOI PRINCIPAL FATOR EXTERNO
Mas de acordo com o Restaurant Business Online, as cozinhas da Reef encontraram problemas especialmente com relação ao licenciamento em algumas regiões, o que levou ao fechamento de operações. Em função disso, a empresa pretende atuar mais próxima às prefeituras onde se instala, para entender as leis e regulamentações de cada município – e vai começar pela cidade natal, Miami.
Segundo o cofundador e CEO Ari Ojalvo, há também fatores externos que motivaram essa redução de equipe, como o aumento da inflação. Em carta aos funcionários, ele afirmou que vai fortalecer as áreas mais lucrativas da empresa, como os estacionamentos e as dark kitchens – e reduzir os serviços em segmentos onde estava em fase de testes e validação. A mudança, escreveu, “provou ser oportuna e necessária à medida que observamos o estado atual da economia. Os setores em que operamos sofreram graves interrupções e demissões significativas”.
Por outro lado, alguns investidores e analistas do mercado tech apontam que, após alguns anos de muita liquidez no mercado e rodadas cada vez maiores para startups (um cenário que beneficiou a própria Reef) o momento seja de readeaquação de estratégias. Segundo dados da plataforma Crunchbase, o mês de abril de 2022 teve o menor volume de investimento global em startups dos últimos 12 meses, totalizando $ 47 bilhões. A queda, contudo, não é generalizada. No mesmo período, 35 novos unicórnios surgiram no planeta, com rodadas no valor médio de $ 188 milhões, também de acordo com o Crunchbase.
Apesar deste significativo corte na força de trabalho, a Reef espera reencontrar o caminho do crescimento – e espera fechar mais uma rodada de investimentos nos próximos meses. “No início do ano, reorientamos nossas prioridades estratégicas para o fortalecimento de nosso negócio de estacionamento, com base no crescimento exponencial das cozinhas. Também intensificamos nosso foco na rentabilidade e produtividade, ambos ativos críticos em ambientes inflacionários”, publicou a empresa em comunicado ao mercado.