Psicodélicos: mercado em alta favorece startups e investidores no Sul da Flórida

Em um ano, aportes em startups de tratamentos terapêuticos alternativos (como a NUE Life, de Miami) mais do que dobraram. Cenário é de expansão com fundos de investimento apoiando desenvolvimento de testes e novos produtos. 

Um mercado em ascensão em plena era de demissões e redução de investimentos de risco. As startups de saúde que desenvolvem pesquisas e terapias à base de substâncias psicodélicas receberam nos últimos 12 meses em torno de $236 milhões em aportes de venture e seed capital, de acordo com o Crunchbase Data. O resultado é mais do que o dobro do que foi investido nos 12 meses anteriores (julho/20 a julho/21): $96 milhões.

O interesse por este mercado se explica pelo horizonte de crescimento nos próximos anos, já que a Food and Drug Administration (FDA) segue liberando pesquisas e ensaios clínicos com substâncias como a psilocibina e cetamina, usadas em terapias assistidas para pacientes com depressão e transtornos de estresse pós-traumático.  Ainda que ilegal no momento, estima-se que o setor movimente cerca de $ 10 bilhões ao longo dos próximos cinco anos.  

Uma das startups deste mercado que recebeu investimentos no período foi a NUE Life,  fundada em Miami em 2021: foram $23 milhões liderados pela Obvious Ventures. A empresa desenvolveu uma plataforma de terapia à base de cetamina, integrando um app interativo e programas virtuais de assistência pós-tratamento. A rodada envolveu também outros fundos de venture capital e investidores do mercado farmacêutico e de tecnologia. Os recursos serão utilizados para NUE Life expandir seu modelo de telemedicina, que atualmente podem ser utilizados em estados como Califórnia, Nova York, Texas, Washington, Colorado, Flórida, Georgia e Massachusetts. Até o final do ano, deve chegar a outros 20 estados do país.

Em recente reportagem, a CBS News destacou que o Sul da Flórida “tem um papel fundamental na transformação dos psicodélicos em direção à medicina mainstream“. A relevância se deve também pelos centros de tratamento alternativo que efetivamente estão gerando benefícios a pacientes com problemas mentais. A “crise de saúde mental” no planeta impacta cerca de 1 bilhão de pessoas e gera custos econômicos de $ 1 trilhão, de acordo com o Empath Ventures, fundo de investimento focado em ‘startups psicodélicas’.

PSICODÉLICOS RUMO AO METAVERSO 

Outro fundo, o Emotional Intelligence Ventures (EI.Ventures), sediado em Miami, está buscando investidores para uma nova rodada de recursos para investimentos em startups de terapias alternativas. Pelo menos 10,5 mil pessoas já aportaram mais de $ 21,5 milhões no projeto. Uma das empresas do portfólio é a PSLY.COM, especializada em terapia psicodélica botânica: em vez de versões sintéticas da psiclocibina, a aposta é no desenvolvimento de compostos naturais de fungos e plantas.

“Sempre foi – e continua sendo – nossa missão impactar um bilhão de pessoas através de terapias e remédios naturais”, explica David Nikzad, fundador e CEO da Ei.Ventures. “Nossas ações recentes e a entrada de investimentos corporativos estratégicos mostram que estamos no caminho certo”.

Em janeiro passado, a Ei.Ventures adquiriu um “terreno virtual” no metaverso onde médicos poderão fazer sessões de terapia psicodélica com os produtos em desenvolvimento da PSLY.COM. Este ambiente virtual é da Sandbox, uma marca da empresa de jogos Animoca Brands (Hong Kong), onde os usuários podem criar e monetizar experiências com NFT e blockchain. Como reforça Nikzad, “será um espaço utópico, uma nova maneira de interagir com outras pessoas a fornecer terapias alternativas”.   

Outra startup que explora os mushrooms – e que recebeu aporte de $1,1 milhão da Ei.Ventures – é a Odyssey Elixir, com sede em Fort Lauderdale e que lançou uma linha de bebidas funcionais à base do fungo e saborizado com frutas e raízes (laranja, framboesa, gengibre) e que, segundo a empresa, ajuda na concentração mental e na reposição energética do organismo. A diferença, em relação a similares do mercado, é que a Odyssey Elixir não usa o micélio, estrutura da raiz do cogumelo que é mais fraca em nutrientes – em vez disso, usa apenas o corpo frutífero do fungo, com beta-glucanos que fortalecem o sistema imunológico. Com os recursos recebidos, pretende ganhar escala na produção das bebidas que já foram bem recebidas em diversas regiões dos EUA.

O cenário favorável aos testes comerciais de drogas psicodélicas é uma importante mudança social nos EUA, que desde os anos 1970 criminalizaram este tipo de substância no contexto da Guerra às Drogas – mas a preocupação com doenças como alcoolismo e depressão estão mudando a maré. Com este potencial instalado de startups e investidores, o Sul da Flórida sai na frente como um dos hot spots para o futuro do mercado de terapias alternativas. 

Foto: Pretty Drug Things/Unsplash