Com telemedicina, startup de Miami quer popularizar tratamentos mentais nos EUA

Plataforma online desenvolvida pela Brave Health oferece terapias e consultas com foco na população atendida pelo Medicaid e acaba de receber uma rodada de investimento de $40 milhões.

Os efeitos da pandemia e do isolamento social nos últimos anos ampliaram a demanda por tratamentos psicológicos e psiquiátricos – um desafio que a população mais carente dos EUA não tem conseguido enfrentar sem o Medicaid, programa social de financiamento à saúde. É com foco neste público, que representa 25% da população, que a startup Brave Health, com sede em Miami, tem ampliado seu mercado no país.

A empresa, especializada em saúde comportamental, foi fundada em 2017 e oferece tratamento assistido, via telemedicina, com terapia, psiquiatria, gestão de medicamentos e aconselhamento para diversos problemas de saúde mental e uso de substâncias (álcool, drogas e outros). Nos últimos anos, a Brave Health teve um crescimento significativo e hoje conta com mais de 200 contratos com planos de saúde em 18 estados dos EUA, somando cerca de 65 milhões de vidas cobertas. 

Mas o acesso a serviços de saúde mental está cada vez mais difícil, uma vez que o total de psiquiatras que atendem pelo Medicaid caiu 35% segundo pesquisa divulgada neste ano pela revista médica especializada JAMA Psychiatry. Como destaca a CEO e cofundadora Anna Lindow, o objetivo da Brave Health é “enfrentar o desafio do aumento da demanda por serviços de saúde mental com presença constante em todas as regiões do país, com o compromisso de levar uma mudança sistêmica na maneira como a saúde comportamental é entregue e paga”. 

Em 2018, Lindow abriu em Miami uma clínica voltada para tratamento de pessoas dependentes de opiáceos mas entendeu que era necessário contar com um serviço coberto pelas seguradoras. Com o tempo, evoluiu o atendimento oferecendo telemedicina e outras doenças, como depressão e ansiedade.

O foco atual da Brave Health – e os avanços recentes – motivaram a Town Hall Ventures a liderar um novo aporte de investimentos de $ 40 milhões na Brave Health, ao lado de fundos como Union Square Ventures e City Light Capital. Esta é a quinta rodada recebida desde 2019, e a maior delas (até então, a empresa tinha captado $ 10 milhões). Os recursos serão utilizados no desenvolvimento de tecnologia, da infraestrutura de banco de dados e também para ampliar sua presença pelo país por meio de novos mercados e convênios. 

A empresa atua de maneira integrada aos convênios de saúde, que indicam pacientes em tratamento ou que estão internados. Segundo a empresa, este direcionamento ajuda a obter resultados significativos em curto e longo prazo, além de reduzir em até 66% os custos dos planos de saúde com uma readmissão dos pacientes a clínicas e hospitais. 

Até o início de 2021, apenas 5% das indicações recebidas pela healthtech era de pacientes que moravam fora da Flórida. Um ano depois, este volume de atendimentos já superava a faixa de 30%. 

TECNOLOGIA FAVORECE CUIDADOS DA POPULAÇÃO CARENTE

Os investidores acreditam que o sucesso do negócio pode aperfeiçoar o sistema de saúde dos EUA voltado ao público mais carente. “A equipe fez o trabalho árduo de envolver a população vulnerável em um momento delicado e estimulá-la a se cuidar de maneira contínua – a Brave Health assumiu a responsabilidade de melhorar os resultados dos pacientes e reduzir o custo dos tratamentos. Estamos entusiasmados em apoiar a expansão e renovar a forma como os serviços de saúde mental são prestados pelo Medicaid”, disse em comunicado Andy Slavitt, sócio-geral da Town Hall Ventures.   

Segundo a CEO Anna Lindow, que vive no Sul da Flórida desde 2016, um pouco antes de fundar a empresa, os pacientes esperam em média 48 dias para conseguirem uma consulta de saúde comportamental. Com uso de tecnologias, como a plataforma digital desenvolvida pela startup, é possível atender a população com muito mais agilidade, em questão de dias. Como explicou a executiva em entrevista recente à Refresh Miami, “há uma enorme oportunidade de mudar algumas das práticas operacionais da indústria e trazer tecnologia que é usada em outros ambientes para a saúde”.