Especialistas mostram por que a região deve estimular a criação de tecnologias de impacto ambiental e empregos verdes – como a Carbon Limit (foto), de Boca Raton, que já venceu prêmios internacionais
As startups que desenvolvem soluções de combate às mudanças climáticas, as climate techs, podem representar não apenas o futuro da economia verde para o Sul da Flórida como também ajudar a região a se prevenir do risco de catástrofes naturais. Em Miami, o nível do mar sobe acima da média global: em um século, o avanço foi de 30 cm – e o cenário deve se agravar nas próximas décadas em função do derretimento de camadas de gelo no Ártico, como apontou matéria publicada pela Economist sobre o possível “futuro submarino” da cidade.
E há um componente adicional a este risco: o impacto do setor de construção civil e imobiliário – um dos maiores ativos econômicos da Flórida – na questão ambiental. Pesquisa da firma de venture capital Fifth Wall aponta que este setor é o que mais impacta o clima, ao consumir 40% da energia mundial e produzindo de 30% a 40% de todas as emissões de gases de efeito estufa. Seria o momento da Miami Tech repensar sua vocação para o mercado de criptomoedas (que recuou de maneira significativa nos últimos dois anos) e olhar mais profundamente para o potencial e o impacto positivo das climate techs?
O investidor e diretor da organização de desenvolvimento econômico Opportunity Miami, Matt Haggman, tem a resposta: “a tecnologia climática e a transição para o net zero (descarbonização dos negócios) definirão o futuro da região”. Em 2021, ele liderou uma ampla pesquisa que identificou estes mercados como as principais fontes de crescimento da cidade.
“É do interesse de Miami adotar esforços para reduzir as emissões de carbono – é uma cidade costeira ameaçada pelo aumento do nível do mar. Mas há outro motivo para se tornar um lugar pioneiro em soluções climáticas: alguns a consideram a maior oportunidade de negócios das últimas décadas, talvez de nossa vida”, definiu o empreendedor em manifesto publicado pelo Opportunity Miami.
Argumentos não faltam, ressalta: em 2021, as climate techs atraíram $ 39 bilhões em capital de risco, um volume 86% superior ao ano anterior e que representa um salto de seis vezes desde 2016. Investimentos em iniciativas de descarbonização dobraram entre 2020 e 2021 – incentivados em escala pelo interesse de fabricantes de automóveis em migrar para a produção de carros elétricos.
STARTUPS APOSTAM NA DESCARBONIZAÇÃO
E a Miami Tech começa a apresentar alguns negócios inovadores nestes mercados. A mais conhecida delas é a Carbon Limit, startup com base em Boca Raton que desenvolveu um produto que captura e armazena o carbono gerado pelo uso do concreto em obras – e gera créditos aos usuários. A solução, chamada de CaptureCreate, ganhou prêmios em diversas competições e congressos pelo mundo, como o Smart Building/Smart Construction Innovation World Cup, em Munique (Alemanha), e a CEMEX Ventures Construction Startup Competition 2021.
“Quando começamos, ninguém estava fazendo isso – criar um material de construção que possa realmente remover o CO2 diretamente da atmosfera, bloqueá-lo permanentemente e gerar créditos de carbono. Estamos muito orgulhosos por termos liderado essa mudança, com a captura de carbono sendo integrada de maneiras inovadoras e criativas”, disse a COO Christina Stavridi em entrevista ao Refresh Miami.
Em outra frente de impacto ambiental – o uso de ar condicionado – está mais uma climate tech de Boca Raton, a Blue Frontier, que recebeu em 2022 um investimento de $20 milhões liderado pelo fundo Breakthrough Energy Ventures (criado por Bill Gates) para descarbonizar os sistemas de refrigeração em edifícios. A tecnologia combina resfriamento com desumidificação usando um “agente de secagem” recarregável que fornece energia limpa e mais barata especialmente nos horários de pico de consumo.
“Em todo o mundo, o acesso ao ar condicionado em um mundo em aquecimento está se tornando uma questão de direitos humanos“, disse John Hingley, vice-presidente de operações da Blue Frontier, que estima uma redução entre 50% e 90% do uso de eletricidade com esta tecnologia.
Exemplos como estes podem ser um ponto de virada sustentável para a economia do Sul da Flórida: entre 2015 e 2019, a geração de “empregos verdes” cresceu 3,8% ao ano em Miami enquanto as ocupações “não verdes” cresceram 1%, aponta relatório municipal “Growing The New Economy”, publicado em 2022. Como destaca Matt Haggman, “o crescimento dos empregos verdes, especialmente em comparação com a mudança nos empregos disponíveis nos setores tradicionais, ressalta que as oportunidades sustentáveis estabelecerão as bases para o futuro”.