Queda foi generalizada em todo o país, aponta relatório da Pitchbook. No Sunshine State, foram 118 aportes que somaram $ 754 milhões, o menor volume do período desde a pandemia. / Foto: Aidan Bartos (Unsplash)
A maré continua baixa para o mercado de venture capital nos EUA. Relatório trimestral publicado pela Pitchbook/NVCA mostra que, em 2023, o volume de investimentos em startups e empresas de tecnologia caiu bruscamente em comparação com o mesmo período de 2022 – seguindo a tendência de queda apresentada na pesquisa do trimestre anterior.
A Flórida – que no ano passado estava na contramão do mercado e chegou a estar no Top 6 dos estados que mais atraíram capital de risco – apresentou no Q2/2023 o menor nível de atividade desde o segundo semestre de 2020, no auge da pandemia. Ao todo, foram 118 deals, que somaram $754,25 milhões, números um pouco acima do primeiro trimestre do ano ($626,8 milhões aportados em 151 investimentos). Uma queda de mais de 40% em comparação com o mesmo período de 2022, quando o total de aportes somou $ 1,3 bilhão.
Para alguns especialistas e gestores de fundos, o mercado de VC passa por um momento de readequação em função da “tempestade perfeita” que levou os investidores para longe dos investimentos de risco: o aumento da inflação global e da taxa de juros, a quebra do Silicon Valley Bank no início deste ano e a desconfiança com alguns operadores de criptomoedas, como a recém-falida FTX – um alerta especial para o Sul da Flórida, que vinha se posicionando como um hub cripto, atraindo eventos, empresas e investidores.
Ainda assim, a região de Miami foi a que representou a maior parte da atividade de venture capital no estado, cerca de $ 500 milhões em 79 deals. Um volume próximo ao registrado por outros ecossistemas emergentes como Chicago e a Filadélfia. Outras regiões da Flórida, como Orlando, não chegaram à marca de $ 100 milhões investidos no período. Em outros tempos, uma única startup conseguiria mais dinheiro com um aporte do que toda a movimentação do trimestre.
No longo prazo, porém, o setor deve se recuperar – mesmo que não atinga o ápice de dois anos atrás. “Neste mercado, precisamos pensar em termos de anos e até mesmo décadas. Não podemos nos ater a números do mês ou do trimestre”, pondera Ken Hall, da DeepWork Capital LLC, firma de venture capital com sede em Orlando. Ele comenta que há um cenário de melhora ainda para este ano, em função do aumento de operações de fusões e aquisiçõs (M&A) e da estabilização do ambiente de taxas de juros – movimentos que podem trazer os investidores de volta ao jogo.
SPORTS & CLEAN ENERGY: STANDOUT INVESTMENTS IN THE PERIOD
Uma das conclusões do mais recente relatório da Pitchbook é que está mais difícil captar recursos para startups em estágio inicial do que empresas mais maduras – o volume de seep capital investido caiu 26,3% nos EUA no último trimestre de 2023. Ou seja, as apostas estão sendo feitas em negócios já consolidados ou em mercados com alto potencial.
E por falar em apostas, foi deste mercado que saiu um dos mais relevantes deals no período no Sul da Flórida. A Betr, uma fintech que desenvolve plataforma de investimento em esportes, captou $35 milhões em junho – atingindo um valuation de $300 milhões. À frente do negócio está o boxeador e influencer Jake Paul e o empreendedor serial Joey Levy, nascido em Miami.
“Queremos tornar as apostas esportivas mais acessíveis e intuitivas para um mercado muito mais amplo de fãs que nunca sentiram que esta pode ser uma experiência de entretenimento envolvente”, explica Levy. Com sede em Little River, a Betr conta atualmente com 80 funcionários e está expandindo.
Outro investimento significativo neste período de baixa foi na cleantech MayMaan, que atua em um segmento estratégico, o de energias renováveis. Em junho, a empresa captou uma rodada de $ 30 milhões para apoiar o desenvolvimento de um sistema que dispensa o uso de gasolina e diesel em motores a pistão – o funcionamento se dá misturando apenas água (70%) e etanol (30%).
“Esse financiamento nos permitirá acelerar o crescimento e o desenvolvimento de nossas soluções proprietárias de combustão limpa, aproximando-nos ainda mais de um futuro sustentável”, disse à Refresh Miami Doron Shmueli, CEO da MayMann que, antes de empreender em vários negócios no Sul da Flórida, foi engenheiro de jatos na Força Aérea de Israel.
Movimentos como estes mostram que, apesar do recuo nos investimentos, o ambiente de negócios inovadores na região segue em expansão – à espera de dias melhores e de cheques mais polpudos.