Potencial para IA atrai investimentos ao Sul da Flórida

Iniciativas baseadas na inteligência artificial se posicionam como novidade no ecossistema de tecnologia do Sunshine State. Só no primeiro semestre de 2023, foram quase $120 milhões recebidos por 25 startups. / Imagem: Stable Diffusion Web

Embora 2023 tenha começado com muitos desafios para os empreendedores do segmento de tecnologia, a região do Sul da Flórida tem apresentado números expressivos que a posicionam na 6ª colocação em número de negócios de capital de risco nos Estados Unidos, segundo dados publicados no recente relatório de insights do eMerge Americas. 

Um dos destaques são os novos empreendimentos voltados à exploração e desenvolvimento dos recursos de inteligência artificial. Aparentemente os investidores têm buscado fomentar projetos baseados nesse tipo de tecnologia, já que só nos primeiros seis meses do ano mais de 25 negócios atraíram quase US$ 120 milhões. O interesse pode estar baseado nas propostas apresentadas por esses empreendedores.

Uma das startups que aposta nos benefícios da IA é a Delphi, que propõe viabilizar uma espécie de “clonagem digital” de pessoas. Ao invés de dedicar-se à replicação de células e criação de um novo ser biologicamente idêntico, a ideia da plataforma – que está rodando em modo beta privado – é eticamente mais simples: permitir que por meio do upload de milhares de documentos o usuário tenha o seu próprio chatbot de inteligência artificial.

O cofundador e CEO da Delphi, Dara Ladjevardian, disse recentemente que a ideia surgiu do interesse de aprender mais sobre o seu próprio avô. “Consegui ler apenas um livro sobre a vida dele, mas criei um clone dele usando essa obra e passei a tratá-lo como meu mentor pessoal”, relata. A intenção é viabilizar que influenciadores, treinadores, criadores, especialistas e políticos, por exemplo, possam estar sempre disponíveis para orientar o seu público, “criando conexões mais fortes e significativas com ele”.

A Delphi anunciou há poucas semanas um aporte de US$ 2,7 milhões liderado por Keith Rabois, do Founders Fund, com a participação de outros fundos e investidores, que serão utilizados para combinar o desenvolvimento de produtos e o crescimento dos negócios.

UM BOT PARA ARQUIVOS PESSOAIS

Outra ideia que corrobora o potencial da Flórida para o desenvolvimento de negócios baseados em IA é startup bundleIQ, de West Palm Beach. Chamado de “assistente de conhecimento” pelo seu criador, Nicholas Mohnacky, o sistema assemelha-se a um bot de buscas comum, mas ele vasculha os diversos arquivos pessoais que o usuário envia. “Eu estava criando uma agência de marketing focada em viagens de aventura e fiquei impressionado como as pessoas andam por aí desinformadas. Elas levantam vários dados e os armazenam em arquivos na sua área de trabalho. Era necessário ter uma maneira melhor”, disse em entrevista recente.

Hoje o bundleIQ tem mais de cinco mil usuários ativos e cresce à média de 900 novos usuários por mês. É possível usar um plano gratuito para sempre, onde o usuário envia mil páginas de informação e faz dez consultas mensais. Há planos individuais (US$ 40 por mês) e para equipes (US$ 250 para cinco colaboradores). A startup já levantou uma rodada de investimento com valor não divulgado do Florida Opportunity Fund, o que, para o criador do negócio, “é um caminho viável para as empresas da Flórida crescerem”.

IA: A NOVA ELETRICIDADE?

Para impulsionar o desenvolvimento de startups que pesquisam e oferecem soluções para as pessoas e negócios baseadas em inteligência artificial, na primeira quinzena do mês de setembro a AI Forge – incubadora de tecnologia dirigida por Kevin Jackson – deu início a dois programas de fomento: um em Miami e outro na cidade natal do diretor, Londres. Cada fase é composta por 12 empresas que recebem US$ 24 mil – 50% para as despesas de subsistência e a outra metade para serviços profissionais. Elas contam ainda com centenas de horas de suporte e orientação. Em contrapartida, a AI Forge assume uma participação de 9% em cada startup.

“A inteligência artificial vai estar em todos os níveis de negócio, independente de ser possível vê-la ou não. Será como a eletricidade e ela atuará otimizando a eficiência, reduzindo custos e tornando o serviço ainda melhor”, afirmou Kevin. Ele diz que a empresa planeja expandir a presença para outras cidades relevantes, como Vancouver, Hong Kong, Istambul e Nairobi. “Queremos ter 10 escritórios e fazer crescer 10 empresas por ano, para resolver problemas do mundo real”, finaliza.

O incentivo ao desenvolvimento das startups de inteligência artificial na Flórida ganhou ainda outros fortalecedores, segundo relatório do Instituto Brookings – uma organização sem fins lucrativos cuja missão é realizar pesquisas aprofundadas e apartidárias para melhorar as políticas e a governança nos níveis local, nacional e global. Um deles é a parceria recente de US$ 70 milhões da Universidade da Flórida com a NVIDIA para criar um data center especializado em IA para abrigar o supercomputador universitário mais poderoso dos Estados Unidos. Há ainda o fortalecimento da formação de mentes para atuarem nesses empreendimentos, já que recentemente o Miami Dade College foi aprovado como a primeira faculdade do Estado para oferecer um diploma de bacharel em inteligência artificial aplicada.

“Se a IA generativa quiser aumentar a prosperidade em mais lugares do país, provavelmente isso exigirá um certo grau de investimento internacional – principalmente do governo Federal – em novas regiões”, diz o relatório. E a Flórida tem potencial para isso.

Texto: Felipe Reis