Fundo de hedge Citadel, com sede em Chicago, anunciou recentemente mudança para o Sul da Flórida – qualidade de vida e negócios em alta continuam atraindo novos negócios à região.
Os dias de sol e o clima de cidade turística são arativos que nunca faltaram a Miami. Quando empreendedores perceberam que os impostos, os custos de mão de obra e o valor dos aluguéis corporativos eram significativamente menores do que em grandes centros dos EUA, a região começou a receber um fluxo inédito de empresas, especialmente de tecnologia.
Depois dos anos do “Tech Boom”, impulsionado pela tendência do anywhere office que se estabeleceu a partir da pandemia, outros mercados – como o de finanças e investimentos – começaram a olhar para o Sul da Flórida como o “lugar para se estar” na atualidade. No último dia 23, por exemplo, o bilionário Ken Griffin, criador do fundo de hedge Citadel, anunciou a seus funcionários que a empresa vai deixar a sede, em Chicago, para a tropical e multicultural Miami. A empresa gerencia um fundo de com capital de $ 51 bilhões.
Não é a única: fundos como Goldman Sachs, Blackstone e Elliot Management também operam na cidade, que tem se destacado no mercado de criptomoedas, com uma série de startups desenvolvendo produtos e serviços para empresas e consumidores, além de inúmeros eventos, como o Miami NFTWeek e o Bitcoin Conference.
Entre os motivos para Griffin fazer as malas está a sensação de insegurança na Windy City. “Está cada vez mais difícil ter uma operação global com sede em uma cidade tão violenta. É como o Afeganistão num dia bom”, disse o executivo durante evento no Clube Econômico de Chicago. Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comuns casos de roubos, tiroteios e vandalismo em bairros onde moram os funcionários da Citadel, sem contar uma tentativa de furto ao carro do dono da empresa.
Griffin e a família já estão no Sul da Flórida – e o restante da empresa deve seguir o caminho em breve. Alguns já se realocaram, trabalhando numa base temporária no Miami’s Southeast Financial Center. Em um ano, espera-se que 100 dos mais de 1.000 funcionários alocados em Illinois já estejam na Costa Leste. Uma nova sede está sendo construída no distrito financeiro de Brickell, mas deve levar alguns anos para ser inaugurada e ocupada.
“AQUI AS PESSOAS CONSEGUEM VIVER”
Desde o final de 2020 se notava esse movimento de banqueiros, gestores de fundos (private equity, venture capital, hedge) e executivos de Nova York rumo ao Sul. Outras regiões dos EUA também se beneficiaram com essa migração dos grandes centros financeiros – como Texas, Ohio e Utah – mas a Flórida é considerada mais próxima, em termos culturais e logísticos. E mais barata também: em 2020, reportagem da Reuters dizia que aluguéis comerciais e residenciais em Palm Beach custavam quase a metade do preço de Manhattan.
“Aqui as pessoas conseguem viver. Absolutamente amo este local e estou tentando conseguir que alguns amigos se mudem para cá”, disse à época Kevin Couper, vice-presidente sênior da Wealthspire Advisors, que chegou à Florida em meados de 2020 e não demorou para se acostumar ao clima praiano.
Grandes escritórios de advocacia estão seguindo o mesmo caminho do capital financeiro. Em maio passado, duas firmas de Chicago – Winston & Strawn e Kirkland & Ellis – confirmaram a abertura de novos escritórios em Miami. Não será uma mudança completa, como no caso da Citadel, mas terá impacto no ecossistema de negócios da região: a Kirkland, que conta com 3 mil advogados e tem o maior faturamento do setor nos EUA, transferiu alguns parceiros corporativos para o lançamento, enquanto a Winston (fundada em 1853 e com 900 profissionais) recrutou seis sócios de concorrentes para montar a nova unidade.
A equipe da Winston & Strawn em Miami terá especialistas em litígio comercial, fusões e aquisições, private equity, projetos e infraestrutura, ativos digitais e blockchain. Na visão de Tom Fitzgerald, presidente de Winston, a cidade “tem atraído importantes pools de capital de empresas públicas e privadas, assim como famílias e profissionais com alto patrimônio líquido. É um centro financeiro dinâmico, um epicentro da atividade empresarial e um ponto crítico de ligação entre os bancos e o comércio internacional com a América Latina e outras partes do mundo”, afirmou em entrevista ao Global Legal Post após o comunicado. É o maior movimento de expansão da empresa em mais de cinco anos, desde a abertura de unidade em Dallas.
A Kirkland, por sua vez, vem priorizando os polos emergentes de tecnologia nos EUA, como Austin, onde inaugurou um escritório no ano passado. Na Flórida, a firma vai realocar alguns advogados-seniores de Chicago e Nova York. “Estamos entusiasmados com a oportunidade. Miami oferece uma comunidade empresarial vibrante onde talento e capital estão se movendo em ritmo acelerado”, comentou John Ballie, presidente do comitê executivo da Kirkland.
FOTO: Felipe Simo (Unsplash)