Melissa Medina assume chefia de plataforma de capital de risco que quer impulsionar a inovação no Sul da Flórida. Missão da eMerge Americas começou há dez anos e planeja estabelecer marco histórico em 2024
Por trás da reunião das mentes mais brilhantes da inovação, tecnologia, empreendedorismo, investimentos e lideranças de negócio e governo que há nove anos ocorre no Sul da Flórida está uma administradora e mestre em negócios internacionais que acaba de assumir uma das missões mais importantes da carreira: Melissa Medina Jiménez, uma jovem que ao lado do pai fundou a eMerge Americas e responde, desde o início do mês, pela chefia executiva da plataforma.
Embora tenha ajudado a criar a marca que é uma das principais conferências de tecnologia do mundo, a guinada ao cargo de CEO ocorreu agora, às vésperas da edição que celebra 10 anos do evento e para suceder Felice Gorordo. Ele esteve à frente da entidade cofundada e presidida por ela nos últimos cinco anos, e encerra o ciclo para assumir o posto de Diretor Executivo Suplente dos Estados Unidos no Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento e como representante do país no conselho do Banco Mundial – uma indicação do presidente Joe Biden confirmada pelo Senado para um mandato de dois anos.
Melissa diz que o momento é “agridoce”, pois chega ao fim o trabalho diário “com um parceiro de negócios incrível” mas que a experiência vai servir de “força motriz para continuar a construir algo pelo qual é incrivelmente apaixonada”. De fato, ela está nesse negócio desde o começo, quando o eMerge Americas não passava de um conceito, evoluindo para uma conferência anual e o acompanha até a atualidade: uma plataforma de tecnologia e fomentadora de comunidades baseada no ecossistema tech.
“Nossa preocupação sempre foi reunir as partes interessadas do ecossistema em um espaço em Miami para mostrar a eles como poderia se tornar um centro de tecnologia”, diz. O trabalho parece estar dando certo, já que a cidade aparece, pela primeira vez, no Top 30 Global como um dos principais locais para o desenvolvimento de startups do mundo. A 23ª colocação está relacionada com o aumento de 160% no valor do mercado do Sul da Flórida (que hoje é de cerca de $91 bilhões) em 2022 na comparação com 2021, e pela boa performance do mercado de venture capital. Segundo o Global Startup Ecosystem Report 2023, o volume de investimentos em startups em fases iniciais cresceu 64% e chegou a $3,5 bilhões. O movimento total da região entre 2018 e 2022 foi de $49 bilhões – o quádruplo da média dos principais ecossistemas pesquisados.
“Quando começamos a estruturar a eMerge Americas, dizíamos que o que faltava em Miami era financiamento e mudança de mentalidade. A cidade sempre foi muito rica, mas baseada em tijolo e argamassa, focada em imóveis. Nunca tivemos nada contra investir nesse segmento, mas levantamos a ideia de que a diversificação do portfólio é importante. É uma questão de educar as pessoas e explicar a elas que o Vale do Silício se tornou o que é e Boston e Nova York também porque eles tinham muito dinheiro por trás”, afirma Melissa, defendendo que para obter bons retornos é preciso assumir riscos.
“Eu dirigia de Miami Beach até Gables para ir à Blockbuster”
Melissa nasceu no Mercy Hospital, em Coconut Groove e morou até os 14 anos em Miami Beach. Ela conta que a região era muito diferente e embora fosse uma área desejada por muita gente em razão da praia, a estrutura era praticamente inexistente. “A comunidade era pequena, cresci em uma ótima bolha. Mas não tinha nada lá, para ir à Blockbuster eu precisava dirigir até Gables”, recorda, saudosa, dos laços estabelecidos com as pessoas do seu círculo social. “Estudei na St. Patrick’s desde a pré-escola até a oitava série, e alguns dos meus melhores amigos ainda são daquela escola”.
Depois ela mudou-se para Coral Gables, onde cursou o ensino médio. Em seguida, foi para a Universidade da Flórida, em Gainesville, para a graduação, e voltou para Miami. “Trabalhei por um ano e fui aceita em um programa de mestrado pela Universidade da Flórida para negócios internacionais, o que foi ótimo porque pude estudar apenas um semestre em Gainesville e fazer o restante do programa em Barcelona, na Espanha, em uma das melhores escolas de gestão empresarial do mundo”, relata Melissa. Desde a conclusão do mestrado ela mora e desempenha suas atividades profissionais em Miami.
A experiência fora dos Estados Unidos ajudou a transformar a percepção dela. Aos poucos, Melissa percebeu que os ideais de valorizar a educação e promover a inovação eram muito próximos dos do pai, Manny Medina. “Ele havia construído uma empresa familiar quando eu tinha três anos, que foi vendida para a Verizon em 2011. Naquele momento nós começamos a pensar que havia muito potencial em Miami, mas era preciso mudar a mentalidade para que algo de grande magnitude acontecesse. Foi aí que ele estabeleceu a Fundação Tecnológica das Américas (TFA)”, explica.
A entidade sem fins lucrativos tem o objetivo de, no longo prazo, simplificar a relação com a tecnologia e transformar a cidade por meio do ecossistema. Ela se inspira em regiões como o próprio Vale do Silício – líder do Top 30 Global segundo o Global Ecosystem Report -, Boston, Nova York e Berlim, entre outras. “Estudamos à fundo esses hubs de tecnologia e os quatro elementos que ajudam a sustentá-los. Descobrimos que todos envolvem educação, razão pela qual defendemos uma base educacional forte em tecnologia, desde o jardim de infância até o nível universitário”. Para Melissa, é extremamente importante ter aceleradoras e incubadoras na cidade pois isso vai viabilizar a retenção de talentos com base no emprego.
eMerge Americas 2024
Na linha de impactar a comunidade e promover a inovação, Melissa diz ter aproveitado a bagagem acumulada ao longo dos anos trabalhando com o pai e na TFA para aperfeiçoar o eMerge Americas. “Ele é um insight para impactar os pilares que compõem o hub de tecnologia imediatamente. Essa conferência, que acabou tomando a forma de um movimento, é baseada em princípios simples, como a união das empresas de tecnologia com as startups e os inovadores. A ideia é trazê-los todos a Miami para que façam negócios com foco na América Latina”, diz Melissa ao destacar que esse mercado emergente concentra números crescentes de usuários de redes sociais e soluções digitais ano após ano.
A primeira conferência ocorreu em 2014 e em 2015 Melissa ajudou a lançar o Women, Innovation & Technology Summit (WIT), que reúne as principais profissionais do sexto feminino de todo o mundo para mostrar como elas estão transformando as indústrias por meio da tecnologia e inovação. Hoje o eMerge Americas atrai mais de 20 mil participantes de 50 países. “Sou apaixonada por transformar Mimi em um centro de tecnologia global e apoiar organizações sem fins lucrativos com sede aqui que buscam capacitar os líderes de amanhã”, conclui Melissa.
A conferência do 10º aniversário da eMerge Americas será realizada durante o Miami Tech Month, nos dias 18 e 19 de abril de 2024, no Miami Convention Center.
Texto: Felipe Reis