Enquanto a maioria das áreas metropolitanas dos EUA registrou queda entre 25% e 40% nos investimentos, Sul da Flórida atinge marca histórica, segundo report da Pitchbook-NVCA
O ano de 2022 ficará marcado como aquele em que o mercado capital de risco pisou no freio – e muitas startups fizeram demissões em massa para ajustar suas operações – em função de um cenário econômico turbulento. Mas, apesar da inflação global, dos desafios pós-pandemia e de uma guerra no Leste europeu, um dos principais relatórios sobre o setor aponta que não se trata de um ano perdido – embora tenha sido afetado pelos investimentos e valuations de startups fora da curva (uma bolha?) registrados em 2021.
O Venture Monitor, divulgado no início de janeiro pela Associação Nacional de Venture Capital (NVCA) e a empresa de dados Pitchbook, mostra que em 2022 foram realizados 15,8 mil deals, que somaram $ 238,3 bilhões investidos por fundos de venture capital nos EUA. Em comparação com o ano anterior, quando 18,5 mil aportes somaram recursos de $ 344 bihões investidos, é um resultado decepcionante. Mas analisando o recorte histórico dos anos anteriores – quando o patamar de investimentos de risco estava entre $150 e $170 bilhões, os números do ano passado representam um avanço significativo.
Enquanto grande parte das regiões metropolitanas dos EUA apresentaram em 2022 queda nos investimentos em comparação com 2021, o Sul da Flórida correu na contramão e atingiu um recorde histórico: $5,5 bilhões em 432 aportes, superando os $5,3 bilhões do aquecido ano anterior. O resultado coloca a região de Miami-Fort Lauderdale em oitavo lugar no ranking nacional, atrás do Vale do Silício (que captou $ 75,4 bi), Nova York ($31,4 bi), LA ($ 23,3 bi), Boston ($ 21,8 bi), Chicago ($10,2 bi), Seattle ($7,8 bi) e a Philadelphia ($5,68 bi). No Top 10, está à frente de Austin e Washington DC – ambas as regiões captaram um total de $ 4,98 bilhões cada. Importante ressaltar que a Bay Area, mesmo com quase um terço do total de investimentos, teve o pior resultado em uma década, aponta o report.
A ascensão do mercado de venture capital em Miami num período de queda generalizada fortalece o ecossistema tech – que mesmo sem o poderio das grandes metrópoles, segue atraindo novos negócios e recursos. O que é fundamental para os desafios do país no momento, como argumentam os organizadores do estudo.
“Para se manterem competitivos, os líderes dos setores público e privado dos EUA precisam fazer investimentos em manufatura avançada, inovação energética, inteligência artificial, além de capacitar a força de trabalho. Atualmente, as empresas não podem depender de cadeias de fornecimento just-in-time, crédito aparentemente interminável, ou energia barata controlada por governos que não são movidos por noções amplamente difundidas de eficiência de mercado e bem-estar social”, resume o report.
Ranking dos estados com maior volume de investimentos de Venture Capital em 2022. / Fonte: Pitchbook-NVCA Venture Monitor
CONFIRA OS PRINCIPAIS DEALS DO ANO EM MIAMI
Em Miami, a diversidade do ecossistema de tecnologia marcou o ranking dos principais investimentos de 2022: startups dos mais diferentes mercados – de web3 a logística, finanças, marketing – lideraram o volume de recursos recebidos. Um detalhe importante: quase todas elas vieram recentemente para o Sul da Flórida, fortalecendo o movimento de migração de profissionais, executivos e empreendedores que está transformando a região em um novo hub de inovação nas Américas.
O maior dos aportes foi na Yuga Labs, referência em NFTs e criadora do icônico Bored Ape Yacht Club e que recebeu $450 milhões numa rodada seed liderada pelo fundo cripto a16z, de Andreessen Horowitz. Com valor de mercado estimado em $4 bilhões, a Yuga Labs quer liderar o mercado de cultura web3 e NFTs com base em jogos e colecionáveis no ambiente do metaverso. Em dezembro passado, a startup anunciou um novo CEO, Daniel Alegre, ex-presidente e COO da Activision Blizzard (uma das principais desenvolvedoras de games das últimas décadas).
Outro investimento robusto na região de Miami foi na recém-criada Flow, uma proptech criada pelo ex-CEO da WeWork, Adam Neumann, que recebeu $350 milhões (também do fundo a16z) para desenvolver um novo modelo de negócio para aluguel de imóveis. Como o Experience Club US mostrou recentemente, a Flórida é o mercado mais competitivo em real estate em termos de valorização, atratividade e índice de ocupação.
Na lista dos principais aportes de VC, estão também a Recurrent Ventures ($300 milhões), plataforma de transformação digital para empresas de mídia; a Muck Rack ($180 milhões), software de gestão para empresas de Public Relations e Comunicação; o marketplace de design Material Bank ($175 milhões), a plataforma de pagamentos e infraestrutura logística PayCargo ($130 milhões) e a fintech Novo, que recebeu duas rodadas que somam $125 milhões.
A Novo, por sinal, é considerada uma das principais histórias de sucesso da Miami Tech. Como afirmou no início do ano o prefeito Francis Suarez, os empreendedores, formados na cidade, “partiram para construir sua empresa em outro lugar, mas voltaram um ecossistema que havia mudado drasticamente. Ao levantar este volume de recursos em seis meses, a fintech nos ajudará no objetivo de nos tornarmos a ‘Capital do Capital'”.
FOTO: Colin Watts (Unsplash)