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Igualdade racial no mundo corporativo entra na Agenda de Davos

Questões sociais como erradicação da fome e desigualdade de gênero têm merecido espaço na Agenda de Davos e a pauta lançada nesta segunda-feira, 25, foca em um tema que é considerado tabu no mercado: a igualdade racial dentro das empresas. No primeiro Fórum Econômico Mundial pós-vacinas contra a Covid-19, a discussão racial ganha protagonismo quando o mais importante encontro de grandes potências do planeta discute o aumento da pobreza provocado pela pandemia e sinaliza com a volta tempos melhores para a agenda do multilateralismo e da defesa do clima.

Denominada “Partnering for Racial Justice in Business”, a iniciativa trazida à Davos nasce com uma coalizão de grandes empresas que juntas somam mais de 5 milhões de empregados em todo o mundo e que prega ações voltadas para uma maior inclusão e promoção de profissionais negros dentro das corporações.

A coalizão abrange mais de 40 companhias de 11 setores da economia, onde fazem parte gigantes como SAP, Google, Microsoft, Nestlé, Johnson & Johnson, Uber, Coca-Cola, Unilever, EY, Salesforce, LinkedIn e Procter & Gamble. Para fazer parte da parceria, as empresas se comprometeram a adotar medidas como: incluir a equidade racial na agenda do conselho; adotar ao menos um compromisso voltado à justiça racial em seus negócios; e definir uma estratégia de longo prazo visando se tornar uma empresa antirracista.

A base para as ações é a desigualdade e injustiça racial que se consolidou no mercado ao longo de décadas. Ao longo dos 62 anos da tradicional lista das 500 maiores corporações do mundo que é publicada pela revista americana Fortune, apenas 15 CEOs eram negros, e hoje essa minoria corresponde a apenas 1% da lista. Entre os profissionais que ocupam cargos executivos, esse índice é de apenas 4,7%, e chega a apenas 6,7% de profissionais negros que ocupam cargos gerenciais.

“Essa desigualdade é insustentável, até certo ponto vergonhosa. Temos que evoluir na questão humana, pois todo o mercado vai se beneficiar com uma sociedade mais justa e equilibrada”, afirma Theo van der Loo, fundador e CEO da NatuScience Laboratórios.

O executivo, que foi presidente da Bayer, é membro do programa “CEO Legacy”, da Fundação Dom Cabral, onde escolheu o tema da inclusão e diversidade como legado pessoal. Theo é um dos pioneiros no mercado brasileiro a atuar em prol da igualdade racial dentro das corporações.

Para mudar este cenário, a gigante de tecnologia SAP tem como meta aumentar em 1% a cada ano a participação de profissionais negros na companhia por meio do programa de novos talentos.

A iniciativa de inclusão abrange também outras minorias como profissionais LGBT, além de aumentar o número de mulheres em cargos de liderança, que hoje corresponde a 28% e a expectativa é atingir 30% até o fim de 2022.

“Na parte racial, colocamos um foco maior no Brasil por conta das características da sociedade brasileira, onde há essa necessidade de uma maior participação da população negra nos negócios. São movimentos para não ficar apenas no debate e discussão do tema, e colocar isso em prática dentro da companhia é muito positivo”, afirma Cristina Palmaka, presidente da SAP para a América Latina e Caribe.

Outra empresa que integra a coalizão da Agenda de Davos é o Google, que tem comitês internos em unidades de diferentes países para realizar iniciativas antirracistas dentro da companhia. No Brasil, o grupo é denominado de AfroGooglers e é liderado pela jornalista Christiane Silva Pinto. Ela foi selecionada pelo programa de jovens talentos para trabalhar, em 2013, e se incomodou ao perceber que era uma das poucas funcionárias negras dentro do escritório da gigante de tecnologia.

“Naquela época [2013] nem se falava tanto em equidade, diversidade e inclusão. O ano em que entrei no Google foi um momento de virada para a companhia dentro desse tema aqui no Brasil”, comenta Christiane Silva.

Em entrevista recente ao Experience Club (Leia mais aqui), a jornalista explicou que entre as iniciativas de inclusão, por exemplo, o Google alterou o modelo de recrutamento de novos funcionários relacionado a habilidades, questões comportamentais e línguas. Nessa revisão, a empresa extinguiu a exigência do Inglês nos currículos por ser um requisito mínimo que exclui 99% dos negros de atuarem na companhia.

Além de um mercado mais justo, iniciativas voltadas à inclusão e diversidade dentro das corporações resultam em diversos benefícios para os negócios das companhias. “É incrível acompanhar jovens que entram com suas diferentes histórias de vida na empresa e o quanto isso agrega para os negócios pois muda a nossa perspectiva. Quem sai ganhando são os gestores e toda a equipe, pois ter visão e pensamento diferentes permitem fazer coisas incríveis”, diz a presidente da SAP para a América Latina e Caribe. A companhia, por exemplo, conta com uma executiva focada no tema que é Judith Williams, Chief Diversity and Inclusion Officer.

“Pessoas com histórias de vida trazem resiliência à companhia”, aponta Theo. Segundo ele, outras questões como sustentabilidade e a presença das mulheres dentro das empresas tiveram avanços importantes nos últimos anos, diferentemente da questão da desigualdade racial.

“A maioria dos grandes executivos concorda que há uma necessidade em tratar do tema mas quando se questiona o que de fato têm feito é muito pouco. É uma questão que não pode ficar só no RH, os CEOs e presidentes das companhias têm que assumir a iniciativa para que os avanços ocorram mais rapidamente”, comenta.

Theo vai mais longe e diz que há a necessidade do mercado avançar no que ele chama de “Compliance Moral”, onde investidores deveriam colocar a igualdade racial nas companhias como fator decisivo para investimentos futuros. “Hoje são investidos milhões em Governança Corporativa, mas para a questão racial não tem verba. Que isso passe a mudar a partir de agora”.

Texto: Fábio Vieira

Imagens: Reprodução

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