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Tokens: the future of money in the age of the platform

Tokens: The future of money in the age of the platform - review by Experience Club

O dinheiro está sendo substituído pelos tokens. O livro reflete sobre os riscos, tendências e impactos dos tokens no futuro da economia

 

Autora: Rachel O’Dwyer

Ideias centrais:

1 – Tokens online, como vales-presente, jogos e dados de clientes, passaram a substituir o dinheiro em plataformas digitais.

2 – Tokens foram usados na história de diferentes maneiras, desde formas de rastrear estoques de cereais até recibos de ourives que contabilizavam depósitos de joias e outros metais.

3 – A coleta de dados por meio de tokens usa, hoje, a inteligência artificial para cruzar informações sobre as pessoas, permitindo o uso por serviços de segurança, governos e no combate a crimes.

4 – Tokens podem ser usados como uma forma de controle, enquanto o dinheiro funciona como um “instrumento de liberdade”.

5 – Intermediários no uso do dinheiro como meio de troca, como governos e plataformas, têm poder para redirecionar ou até encerrar transações.

6 – Obras de arte são transformadas em tokens quando são compradas para investimento e enviadas para armazenamento online, portanto isentas de impostos. Neles, são comercializadas sem sair do lugar.

7- Contratos inteligentes e NFTs criaram um novo modelo de negócio para as indústrias culturais com a venda de obras “únicas” em um formato digital.

8 – Há previsões de que, cada vez mais, as pessoas se sentirão melhor no mundo virtual, como nos jogos e no Metaverso, do que no real. A dúvida que fica é: como viverão no futuro?

Sobre a autora:

Rachel O´Dwiyer é pesquisadora, escritora eprofessora na Escola de Cultura Visual da National College of Art and Design de Dublin, na Irlanda. Ela estuda a intersecção entre as economias culturais e digitais, com temas como tokens online, arte e dinheiro, dinheiro programável e moedas alternativas, incluindo suas consequências sociais e políticas.

Introdução:

O livro trata de coisas que funcionam como forma de pagamento, mas que não são exatamente dinheiro. Eles já foram usados durante a história de diferentes formas, em mercados cinzentos, negociação de ativos armazenados, por serviços em guerras, em sociedades secretas e pelo trabalho sexual.

Desde o início do capitalismo industrial, o dinheiro ficou mais forte. Os tokens passaram a ser usados em jogos de azar, presentes, caridade, bares de sindicatos estudantis, entre outros. Agora voltaram a ser mais utilizados. Tokens online, como tempo de transmissão, vales-presente, jogos e dados de clientes, passaram a substituir o dinheiro em plataformas digitais.

Os tokens são usados agora para transformar coisas invisíveis em ativos, para pagar salários, rastrear compras e para programar e especificar termos de acesso e de inclusão financeira. Alguns exemplos são pagamentos feitos pela Amazon em gift cards, o uso do token “Bits” na plataforma de streaming Twitch, que transmite partidas de videogames e e-sports, e moedas virtuais em jogos online que têm valor no mundo real.

Muitas das empresas que usam esses tokens atuam nas áreas de mídias sociais, games e comunicação, em sua maioria, sem qualquer licença financeira. Há ainda usos subversivos, em economias informais, para comunicações, protestos e para reimaginar o dinheiro.

Diante disso, a publicação se debruça sobre questões como: quem controla a forma que os tokens online assumirão? Qual o significado da transformação das plataformas em bancos de fato? Que novos tipos de controle e discriminação surgem quando o dinheiro é vinculado a aplicativos, ações ou identidades online? Como os tokens criam novos fluxos de valor para ativos virtuais e físicos?

E ainda: como os tokens atuam como truque regulatório, impulsionando a exploração na economia gig [arranjo alternativo de trabalho em que as pessoas prestam serviços de forma independente, sem vínculo empregatício] e no espaço fintech? Qual é o equilíbrio de poder entre estado e a plataforma quando os tokens são emitidos e resgatados, e como isso funciona em diferentes contextos? Como podem as subculturas online, o ativismo e a arte na internet serem espaços para reimaginar o que o dinheiro poderia ser, agora e no futuro?

Para a autora, tokens são uma camada de transferência de valor. Podem capturar o valor de coisas intangíveis, como memes digitais ou um momento no tempo. Mas também são uma forma de permitir que coisas sólidas difíceis de manejar e geralmente ‘ilíquidas’ entrem no mercado. Isto é verdade para a soja tokenizada listada na blockchain em 2023, assim como era verdade para os tokens de grãos da Mesopotâmia há quase 10 mil anos.

1 – Uma Brincadeira

Quando transformado em um token, o dinheiro pode parecer uma dádiva ou algo diferente de outros pagamentos, como salários e remessas. Desta forma, pode se tornar “uma brincadeira” ou “uma coisinha”, de acordo com a socióloga Viviana Zelizer. O uso de vales-presente também é uma forma de pagar alguém sem parecer que isso é realmente um pagamento, do ponto de vista jurídico.

Amazon Gift Cards, por exemplo, já são utilizados atualmente para pagar professores, remessas ao exterior, bônus de Natal, e também trabalho informal na internet, ficando no topo das listas de desejos de influenciadores em sites como OnlyFans, Twitch e Chaturbate.

Em sua plataforma Mechanical Turk, a própria Amazon paga trabalhadores não americanos e não indianos exclusivamente com esse tipo de vale-presente. Isso permite que a empresa decida como o token será usado e quanto vale.

Outro exemplo é a emissão de “Bits” no site Twitch, da Amazon. Os espectadores podem comprá-los e doá-los aos streamers. Cem “Bits” valem US$ 1,40, sendo que 70% do valor fica para o influenciador e 30% para a plataforma.

Para o Twitch, os Bits são uma forma de capturar valor do conteúdo da plataforma, mas também são um truque regulatório, uma forma de empregar trabalhadores sem contrato e processar pagamentos sem licença financeira. Para os streamers e usuários, esses tokens também podem ser uma forma de se expressar e se relacionar com outras pessoas. Ainda mais importante, constituem uma brecha no mercado paralelo, uma forma de os trabalhadores serem pagos por um trabalho marginal e/ou extralegal.

Segundo estudos feitos na China, há muitas possíveis motivações para o envio de presentes e de tokens virtuais em plataformas. Vão desde o desejo de recompensar conteúdo considerado valioso, mostrar apreço ou apoio, se destacar na multidão, sinalizar status, chamar atenção, estabelecer uma ponte e promover uma conexão duradoura com o influenciador, comunicar aprovação ou desaprovação, e até, em casos raros, delimitar território ou afirmar domínio sobre outros no canal ou sobre o próprio produtor de conteúdo.

Em sites com tema sexual, como o Chaturbate, o uso de tokens pode significar o direito de acessar virtualmente o corpo da pessoa que se apresenta ao vivo, podendo escolher o que e como ela ou ele fará algo.

Tokens podem fazer com que a pessoa faça parte de um grupo fechado, com uma linguagem própria. O poder dos tokens está na fantasia da compra do outro. Os participantes brincam de possuir algo que não pode ser comprado, pelo menos não por aquele preço.

Além disso, como os tokens não são reais, eles escondem as transações, permitindo que a pessoa finja que o que está acontecendo é apenas “por diversão”, algo entre amigos. Traçam uma linha ainda entre o trabalho que você faz para ser pago e o que você faz porque ama. Isso inclui as formas que são usadas até hoje para pagar o trabalho doméstico invisível das mulheres por seus maridos, como presentes.

Tokens traçam os limites entre trabalho e não trabalho, atividade econômica legítima e ilegítima, pagamento e doação. Marcam o ponto onde os mercados se misturam do branco ao cinzento e do cinzento ao preto. Com isso, as plataformas acabam sendo usadas ainda para a disseminação de ideias extremistas, conspiração e manipulação.

2 – Dinheiro Fala, Tokens Rastreiam

Projetos pelo mundo colocam marcas em notas de dinheiro para acompanharem por onde eles circulam. Pesquisadores usam estas informações para rastrear o uso das moedas e responder perguntas sobre seu uso. Tokens virtuais são mais fáceis de rastrear.

Os novos canais de pagamento armazenam em cache dados transacionais juntamente com uma série de outros detalhes demográficos, psicográficos, sociais e biométricos sobre quem paga e quem recebe. E os pagamentos digitais produziram uma nova classe de plataformas que armazenam, recuperam e agem com base nestes dados.

Tokens foram usados na história de diferentes formas, desde rastrear estoques de cereais e de metais preciosos 7.500 anos antes de Cristo até recibos de ourives no século XVII, que contabilizavam depósitos de joias e outros metais, e que foram precursores da letra de câmbio e da nota.

Atualmente o sistema de pagamentos mais usado nos EUA é o Venmo, da PayPal. O aplicativo armazena dados das transações, incluindo quem enviou o dinheiro, para quem e para quê. Isso provoca questionamentos sobre o uso dos dados, que são usados principalmente para publicidade, gerenciamento de estoques e análise de risco.

A prática de classificar e pontuar os consumidores nunca se limitou aos fatos econômicos, mas quando a fofoca foi revestida de códigos e números, começou a parecer que os dados eram objetivos. E dados parecem de alguma forma mais persuasivos do que “eu conheço sua mãe”, mesmo que sejam reduzidos à mesma coisa.

Essa coleta de dados hoje usa a inteligência artificial para cruzar diferentes tipos de informações disponíveis na internet sobre cada pessoa. Com isso, os perfis ficam cada vez mais detalhados, mas não necessariamente mais justos. Além disso, os dados também são usados por serviços de segurança, governos e combate a crimes, como lavagem de dinheiro e evasão fiscal.

Uma forma de burlar tamanha vigilância é voltar a usar dinheiro, mas isso fica cada vez mais difícil. O início do uso de criptomoedas foi uma tentativa de evitar o rastreamento de transações digitais. Hoje até esse tipo de moeda digital pode ter dados rastreados. O token mais usado no momento para transações anônimas na Dark Web se chama Monero.

3 – Manteiga Programável

O uso de cupons de alimentação foi usado na Irlanda na década de 1980 para ajudar pessoas na pobreza. Um deles só poderia ser trocado por manteiga em estabelecimentos específicos. Ele recebia o nome de butter vouchers.

O que acontecia, no entanto, é que acabavam sendo trocados por muitos outros tipos de produtos, como outros alimentos ou até cigarros e bebidas. O exemplo mostra o espaço que existe entre tokens burocráticos e sua real utilização por quem precisa deles. Mostra ainda que tokens podem ser usados como uma forma de controle, enquanto o dinheiro funciona como um “instrumento de liberdade”.

Para a autora, não existe um token que seja universalmente aceito em qualquer tempo e lugar para qualquer coisa. Os tokens atuais mostram que são cada vez mais específicos, só podem ser trocados por um tipo de coisa, circulam em nichos e são vinculados à identidade.

Há muitos exemplos ainda de tokens voltados aos pobres, que dependem de várias condições para poderem ser usados. Acabam carregando um julgamento moral, como se estas pessoas não soubessem lidar com dinheiro.

Como os usuários sempre buscaram usar seus tokens de diferentes formas daquelas consideradas obrigatórias, os estados passaram a encontrar maneiras de rastrear o uso. Tokens são agora inteligentes ou programáveis, o que significa que as condições que regem a sua utilização, resgate e possibilidade de transferência estão codificadas num objeto.

Eles usam contratos inteligentes, automatizando os termos e condições da troca. Esse tipo de contrato tem cláusulas expressas em termos legíveis por máquina e são criados para serem executados automaticamente. Com isso, impedem a possibilidade de disputa, diferente dos contratos tradicionais, que podem ser quebrados pelas pessoas que o assinaram.

Diferente do dinheiro, tokens são frequentemente ligados à identidade. A autora questiona o que pode acontecer com a criação de dinheiro “programável”, que automatiza seu uso.

Tokens atribuem valores ao nosso dinheiro, que moldam os usuários e persistem quando um partido ou uma pessoa já não está por perto. A questão que se coloca é quem irá produzir e gerir os scripts de tokens no futuro? O estado, as plataformas ou a comunidade descentralizada da Web3?

4 – Dinheiro, mas Vamos Torná-lo Social

A teoria econômica clássica define algo como dinheiro se puder ser usado como meio de troca, reserva de valor e unidade de contagem. Se não atender a essas três funções, então é outra coisa. Intermediários no uso como meio de troca – governos e plataformas – têm poder para redirecionar ou até encerrar transações.

No uso como unidade de contagem, o dinheiro pode ser usado para precificar qualquer coisa, desde gado e terras, até sexo e pessoas.

Os títulos sociais são uma espécie de seguro. O dinheiro é outro tipo de segurança. Mas e se retirássemos totalmente o elemento de “reserva de valor” do nosso dinheiro? Com que tipo de sociedade ficaríamos? Talvez aquela em que os usuários teriam que investir e armazenar boa-fé uns nos outros, em vez de um token.

Há, no entanto, tokens que tentam gerar cuidado com as pessoas e com o planeta. E se concebermos dinheiro para reparar o que já foi tomado, ou para levar em conta o custo das ações de hoje para as gerações futuras? Que tal um sistema monetário que recompense o trabalho oculto de cuidar das crianças ou pague para usar menos, em vez de mais, dos nossos recursos partilhados?

5 – Coma o Rico

A época de pandemia de Covid-19 tornou popular o uso de aplicativos de day trading. Entre os principais motivos, estavam os apps de negociação sem taxas, permitindo que pessoas sem experiência no mercado financeiro começassem a investir.

Ao contrário dos fundos de hedge tradicionais (mas muito parecidos com a maioria dos aplicativos de mídia social), esses aplicativos têm um modelo de negócios baseado em dados do usuário, não em taxas. Aqueles que passavam o tempo apostando no futebol passaram a investir no varejo. Foi a época também em que os influenciadores de investimentos ficaram mais conhecidos.

Em 2021, surgiu o meme “Coma o Rico”. Dentro de aplicativos de investimento, e com incentivo de influenciadores, grupos de pessoas começaram a comprar ações de empresas com baixo investimento para mudar a direção do valor das ações. Foi o que fizeram com ações da GameStop, uma loja física de videogames usados. O valor da ação passou de US$ 3 em 2020 para US$ 483 em janeiro de 2021.

O espaço entre o jogo ilegítimo e o investimento legítimo diminuiu. O mesmo aconteceu com o espaço entre assumir uma participação econômica e publicar uma opinião não solicitada na internet. Os aplicativos financeiros surgiram como um novo tipo de mídia social. E as mídias sociais moldaram os mercados.

6 – Confie no Código

A autora explica que o dinheiro costuma ser visto como algo que representa confiança, tanto no governo, que emite o token, como na acessibilidade a ele no presente e no futuro. Os tokens são promessas. Seu valor depende da crença de que essas promessas serão cumpridas. Hoje, porém, há mais do que uma sensação de que podemos deixar de lado a confusão da confiança nos outros (e o risco que isso envolve) e confiar no código.

O Bitcoin foi criado com essa crença. O blockchain é a principal inovação do protocolo Bitcoin, uma tecnologia que permite que pessoas que não se conhecem ou não confiam umas nas outras cooperem, façam transações e todos concordem na distribuição de valor na rede. Muito se fala sobre a suposta imutabilidade dos registros no blockchain, um registro permanente, “gravado em pedra criptográfica no livro-razão”, o que significa que ninguém pode reescrever ou negar a história.

Desde 2014, o blockchain deixou de ser limitado apenas a transações, quando a startup chamada Ethereum expandiu o script Bitcoin para que pudesse executar qualquer tipo de função. Ela criou o contrato inteligente, que automatiza uma ampla gama de processos de tomada de decisão.

Eles também construíram uma nova estrutura de governança, chamada organização autônoma descentralizada, ou abreviadamente, DAO, uma estrutura organizacional baseada no mercado para a cooperação sem a necessidade de um governo. Em vez disso, o comportamento de grupo foi programado no contrato: a estratégia de investimento, a propriedade coletiva, os gastos, as doações poderiam ser votados e automatizados através do código subjacente.

Muitas das tecnologias que se tornaram Bitcoin nos anos 2000 foram temas de duas listas de discussão dos anos 1990, Cypherpunk e Extropian. Cypherpunk era um fórum anarquista que explorava ferramentas tecnológicas para privacidade e cooperação e  Extropian era um fórum dedicado ao transumanismo: a crença de que a tecnologia deveria ser usada para o avanço humano.

Para os criadores do Bitcoin, governos exercem o uso da força em oposição à persuasão, sendo este um exercício unilateral de coerção.

Houve uma tentativa de viver sem governo no estado de Nevada nos EUA. Em 2018, Jeffrey Berns, CEO da empresa Blockchains LLC, comprou um grande terreno em Storey County. Ele criou o projeto de uma cidade inteligente chamada Painted Rock, que teria suas próprias regras, independentes do governo local, e que seria exercido por empresas comerciais.

Após uma proposta legislativa, o governo de Nevada levantou uma série de preocupações. As principais dúvidas eram: qual seria o sistema de pesos e contrapesos em um sistema sem qualquer autoridade além da tecnologia blockchain? Quem forneceria saúde, bem-estar e segurança aos cidadãos se a cidade parecia ter o objetivo de desenvolvimento econômico? O projeto foi deixado de lado em 2021.

7 – Fora das Fronteiras

NFTs são tokens usados para comercializar coisas insubstanciais, explica o livro, desde gatinhos virtuais até skins no jogo Fortnite. Este é o extremo oposto do que os tokens fizeram na história, quando tornavam coisas sólidas, como barras de ouro, cereais, cacau, casas e carros, em valores líquidos, mais fáceis de circular.

Obras de arte também são muitas vezes transformadas em tokens, quando são compradas para investimento e enviadas para armazenamento em locais conhecidos como portos livres, espaços isentos de impostos. Nestes locais, podem ser vendidas várias vezes sem nunca saírem do lugar ou até servirem como garantia para empréstimos.

Empresas de blockchain exploram, desde 2013, formas de associar objetos físicos, como arte, diamantes ou ouro, a tokens criptográficos. Eles podem representar a propriedade total ou fracionada de um objeto que existe em algum lugar do mundo real.

Alguns questionamentos a serem feitos são: como um token virtual e uma mercadoria física estão interligados? Como saber se alguém trocou minha pintura por uma réplica depois que o registro foi colocado no blockchain? Como saber se as informações armazenadas no blockchain são precisas?

As soluções costumam ser complicadas e levam de volta à questão central do uso de tokens: é preciso confiar que os dados são verdadeiros. O valor não está mais na posse do bem, mas na posse do token.

8 – Uma Cyber Dimensão Celestial

Os tokens não fungíveis, conhecidos como NFTs, são tokens criptográficos cujo valor está vinculado a um único item digital. Pode ser uma skin rara em um jogo de computador, uma música, um par virtual de mocassins Gucci Marmont, um GIF de um atleta ou um meme popular. Em 2018, a obra de arte digital e analógica “Celestial Cyber Dimension”. um desenho e animação de um gato, conhecido como cryptokitty, foi leiloada por US$ 140 mil.

As NFTs explodiram em 2021 junto com a difusão dos investimentos em criptomoedas. Seu valor equivale a quanto alguém estiver disposto a pagar por ela. Na maior parte das vezes, estão associadas a um objeto digital. Antes delas, acreditava-se que não existia um mercado real para arte digital, mas isso mudou.

Os contratos inteligentes e os tokens não fungíveis ofereceram um novo modelo de negócio às indústrias culturais. Além de serem uma forma de cunhar e vender obras “únicas” em um formato digital, e de manter seu registro de propriedade e de proveniência, os tokens também podem ser usados para impor condições à sua venda e transferência.

A compra de obras digitais desse tipo deixa de ter a importância da propriedade material em si. O que mais importa é o grau de informação – que pode ser chamado de vibração, glória, hype, buzz, espetáculo – que pode ser gerado em torno dela. Além disso, mesmo no mundo virtual, segue importante o papel de intermediários – como galerias e especialistas – para legitimar o valor da obra.

9 – “Quando você vive na merda, há sempre o Metaverso”

Uma nova categoria de jogos virtuais é chamada de “jogos para ganhar”. Neles, os jogadores são recompensados com tokens a cada tarefa cumprida. Esses tokens podem ser negociados por criptomoedas ou moedas oficiais. O mais conhecido deles é o Axie Infinity, em que o objetivo é reunir “Axies”, uma espécie de desenho animado, representados por NFTs. Outros exemplos de jogos são Final Fantasy e World of War.

Os jogos online geraram mercados cinzentos dedicados à venda de coisas que não são realmente coisas. Com isso, criaram um espaço em que jogadores de países com economias mais pobres jogam para “minerar” ouro virtual e vender para jogadores de países ricos por dinheiro real. Em vez de passar horas no jogo, os jogadores ricos podem pular a rotina de buscar comida, criar ou lutar, subindo de nível apenas com dinheiro real.

Jogos virtuais também levantaram preocupações de autoridades pela possibilidade de evasão de impostos, lavagem de dinheiro e crimes, com o uso de dados de cartões de crédito roubados.

Assim como nos games, empresas começaram a vender espaços no Metaverso. É o caso da Decentraland, criada pela Ethereum Blockchain, que a descreve como um destino virtual para ativos digitais. O espaço mais conhecido no metaverso é o Second Life, ou “Linden”, uma cidade virtual que deixou de ser apenas um jogo para incluir vida social, planos de negócios e movimentos artísticos. Outro exemplo é o Metaverso da Meta, ex-Facebook, chamado Horizon Worlds.

O Metaverso, no entanto, também pode ser visto apenas como uma forma de escapar de uma realidade difícil. Quando você vive na merda, sempre existe o Metaverso. Uma segunda vida. Uma segunda chance. Um novo começo, ou quantos recomeços quiser. Aparecendo e reaparecendo no mundo virtual.

Atualmente as empresas disputam a possibilidade de monopólio desses espaços. As plataformas competem para ver quem construirá o mundo e desenvolverá os padrões de como os itens são renderizados, quem administrará a identidade, e talvez o mais importante, atuará como meio de pagamento para o processamento da compra e transferência de itens digitais.

Enquanto há previsões de que, cada vez mais, as pessoas se sentirão melhor no mundo virtual do que no real, fica a dúvida sobre como viverão no futuro.

FICHA TÉCNICA:

Título: Tokens: The future of money in the age of the platform

Autora: Rachel O’Dwyer

Resumo: Fernanda Nogueira

Edição: Monica Miglio Pedrosa

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