Região liderou a oferta de empregos no mercado tech norte-americano nos últimos meses. Impulso vêm da chegada de novas empresas e fundos de investimento
O sul da Flórida, que tem Miami como epicentro, foi a região com mais ofertas de emprego em TI nos últimos meses. Segundo estudo da CompTIA (associação comercial americana que certifica profissionais para o setor), havia 14.084 vagas abertas, no final de junho. O total era de 10,9 mil postos de trabalho, no primeiro trimestre.
Nos três principais condados ao sul da Flórida, o aumento das oportunidades em empresas tech foi de 29% entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano. Em Tampa, Orlando e Jacksonville, há mais de 23 mil vagas abertas – em comparação, a região do Vale do Silício abriu 3.370 empregos (13% de aumento) no mesmo período.
A demanda não é por acaso: dezenas de startups e fundos de venture capital migraram para a região desde que a pandemia se alastrou pelo país, atraídas por impostos menores e uma regulamentação mais amigável aos empreendedores.
Outras áreas metropolitanas também aproveitam a onda do mercado de tecnologia nos Estados Unidos, especialmente no “cinturão do Sol” (Sul Belt), faixa que cruza todo o Sul do país e que apresentou grande crescimento demográfico e econômico nos últimos anos. São os casos de Phoenix (expansão de 26%), Austin (25%), Dallas (24%) e Atlanta (20%) – todas com mais de 10 mil posições abertas. Em todos os Estados Unidos, as empresas de tecnologia contrataram 80.600 trabalhadores na primeira metade de 2021.
Para o vice-presidente executivo de pesquisa e inteligência de mercado da CompTIA, Tim Herbert, os dados mostram que ainda há uma demanda reprimida por talentos em tecnologia. Em segmentos como segurança cibernética e inteligência artificial, a falta de profissionais disponíveis é ainda mais grave.
Diversidade
Outro relatório, o Scoring Tech Talent divulgado pela da CBRE (líder global em investimento e serviços imobiliários comerciais), mostra que o sul da Flórida tem mais profissionais graduados com origens raciais e étnicas sub-representadas do que qualquer outra região metropolitana dos EUA – 68% dos 2.770 formados em 2020.
No ranking de participação feminina, porém, a região não ostenta bons indicadores: a região tem a segunda força de trabalho menos diversificada do país, quando analisada por gênero – apenas 23% são mulheres.
Além da migração de empresas, outros negócios inovadores criados na região se destacam no mercado de TI. É o caso da Heru, que desenvolve um software de diagnóstico e aumento de visão para uso em equipamentos de realidade virtual e aumentada.
A startup é uma spin-off do renomado Bascom Palmer Eye Institute, da Universidade de Miami. A Heru recebeu recentemente um investimento de US$ 30 milhões da Softbank para construir uma plataforma de inteligência artificial em nuvem para correção de problemas oculares. A plataforma já foi aprovado pelo Food and Drugs Administration (FDA).
A ascensão tech de Miami também se deve ao fato da região ter sido o refúgio de muitos empreendedores e profissionais durante a pandemia, reduzindo a concentração de centros como Nova York e São Francisco.
Em dezembro passado, o diretor do Founders Fund (fundo de venture capital que tem no portfólio gigantes como Facebook e SpaceX), Delian Asparouhov, perguntou no Twitter: “e se nos mudássemos do Vale do Silício para Miami?”.
O desafio foi aceito, no mesmo dia e na mesma rede social, pelo prefeito de Miami, Francis Suarez, que começou um movimento para atrair empresas à região. Desde então, segundo Suarez, 17 companhias globais já confirmaram a abertura de negócios no Sun Belt, entre elas a Goldman Sachs e o Spotify. O fundo de venture capital SoftBank se comprometeu em investir US$ 100 milhões para aquecer o ecossistema de startups do sul da Flórida.
Os resultados podem impactar também a América Latina. O SoftBank anunciou um programa semestral (aberto ao público em geral e com participação virtual) com cursos de tecnologia que geram crédito para universidades locais. A iniciativa é válida para interessados no México, Colômbia e Brasil.
Segundo o prefeito Suarez, o interesse por Miami não é passageiro: “é um movimento, não um momento”.