No esporte, o novo salto econômico do Sul da Flórida

Sede de grandes eventos internacionais, como F1, hipismo e tênis, a Magic City agora conta também com o futebol – e o astro Lionel Messi no Inter Miami – para impulsionar turismo e negócios. / Foto: F1MiamiGP

O Sul da Flórida vive um 2023 esportivo inesquecível. Sede de torneios tradicionais, como o Miami Open, a cidade vem se consolidando como lar de outros esportes de grande audiência e alcance global, como a etapa da F1 e o circuito global de hipismo Global Challenge Tour. No basquetebol, a franquia local Miami Heat teve dias de glória ao vencer a Conferência Leste da NBA, embora não tenha levado o título nacional. Agora, é a vez do futebol – esporte mais popular para a imensa população latina da região – dominar as atenções e impactar uma economia que já vem se abrindo para outros segmentos, como o de emergente mercado de tecnologia e venture capital. 

O nome que mudou o jogo na cidade é Lionel Messi, recém-campeão do Mundo pela Argentina na Copa de 2022, que escolheu o projeto esportivo (e a proposta financeira) do Inter Miami após sair do futebol europeu para um contrato de dois anos e meio.  De acordo com o proprietário-geral do clube, Jorge Mas, a chegada do camisa 10 deve dobrar as receitas do Inter Miami durante os próximos 12 meses – a estimativa é chegar o valor de mercado fique entre $1,3 bilhão e $1,5 bilhão (atualmente, o valuation é de $600 milhões, segundo a Forbes). 

Segundo Mas, não se trata de uma contratação fortuita – o objetivo dos proprietários é que o Inter Miami se torne “a principal plataforma para o desenvolvimento da liga de futebol nos Estados Unidos” – algo como o New York Cosmos fez no final da década de 1970 ao trazer para a Big Apple dois dos maiores jogadores da época, como Pelé e Franz Beckenbauer. 

Quem também comemora a “Messi mania” é o prefeito de Fort Lauderdale, Dean Tratalis, cidade recebe os jogos do Inter Miami. “Fort Lauderdale está sendo exibida em um cenário mundial. O setor de hospitalidade se beneficia atendendo quem vem de fora para torcer por Messi”, disse o prefeito em entrevista à Fox Business, lembrando que há investimentos em diversas frentes na região. “Aumentamos o tamanho do estado e muitas empresas locais adicional promoções, ofertas e festas para assistir ao jogo”.  De acordo com a Fort Lauderdale Downtown Development Authority (DDA), a taxas de ocupação dos hotéis da cidade chegou a 86% no primeiro trimestre de 2023, superando em 23 pontos percentuais a média nacional. 

IMPACTO EM DIFERENTES MERCADOS

A F1 é um exemplo do impacto de eventos globais na região. De acordo com relatório de impacto econômico divulgado pela South Florida Motorsports, a realização do primeiro Grand Prix na cidade, em 2022, resultou em uma movimentação de $350 milhões. Durante a semana da corrida, o gasto dos visitantes somou $150 milhões, sendo que o autódromo internacional recebeu, durante os três dias de atividades, um público de 243 mil pessoas. A preparação do GP envolveu cerca de 3 mil trabalhadores locais, que receberam mais de $100 milhões. 

“Estamos ansiosos para aumentar o evento e o impacto positivo que ele continuará a causar aqui nos próximos anos”, disse Richard Cregan, CEO do Crypto.com Miami Grand Prix. Os dados da segunda edição do GP, em maio deste ano, ainda não foram divulgados. A corrida (assim como o charmoso circuito de hipismo Global Challenge) é realizada no entorno do Hard Rock Stadium, que sedia também o Miami Open de tênis, criando uma nova centralidade para grandes eventos na cidade. 

A febre esportiva chega ao Sul da Flórida em um momento importante para a economia. Ainda que a cena tech tenha atraído a atenção de empreendedores e investidores desde a pandemia, há a incerteza com relação à queda no mercado de venture capital (no segundo trimestre, o volume de investimentos em startups da Flórida caiu 40% em comparação com o mesmo período de 2022) e com a aposta, que se mostrou frágil, no universo das criptomoedas. A corretora FTX (que detinha os naming rights do ginásio do Miami Heat) faliu e a conferência Bitcoin vai trocar o Sunshine State em 2024 por Nashville. 

Ainda que a Miami Tech passe por um período de retração, outros mercados na região seguem em alta, como o setor imobiliário. Dados da consultoria Zillow mostra que o valor dos imóveis em Miami está crescendo bem acima da média do país. Em junho de 2023, o preço médio de uma casa no EUA está avaliado em $ 348 mil, enquanto na Magic City a média é de $ 458 mil – há 10 anos (junho/2013), os imóveis na cidade ($160 mil) estavam avaliados abaixo da média nacional ($162 mil).

Dependendo do sucesso da jornada de Lionel Messi em gramados do Sul da Flórida – e de outros eventos esportivos que já estão no calendário – a economia local pode depender cada vez menos dos humores e oscilações do mercado de tecnologia.